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domingo, 8 de abril de 2018

combustível de vida

Deixa lhes confessar uma intimidade... tenho tesão pelo novo! Me atrai, física e espiritualmente. Objetos, culturas, processos, produtos materiais ou culturais, apresentações, tudo junto e misturado ou cada um no seu quadrado, não importa. Quero conhecer, aprender e, se gostar, desfrutar do novo e de novo.

E gosto mesmo é daquela porção radical, que traz nova ‘gramática’, novo ritmo, novo olhar. Quando temos de nos desfazer de preconceitos e paradigmas, nos desarmar, digamos, para assimilar aquilo que se nos apresenta, a princípio, obscuro. Temos de nos desvirginar naquele universo, entende o ângulo, as cores e a verve de meu prazer?

Me lembro de um show de Afro Jazz a que fui, absolutamente como descrevo acima. No princípio, foi só estranhamento. Mas devagar fui digerindo, aprendendo, entendendo e gostando, por fim. Me entreguei à música e deixei que ela conduzisse os movimentos de meu corpo, que não consegui
coreografar em passos, dá pra entender? Era uma entrega e ponto. Saí dali com um CD na mão (foi antes da era streaming) e já louca para ouvir e conhecer mais do mesmo.

E com Omindá foi um pouco assim. O estranhamento não rolou na mesma medida, mas o aprendizado e o gosto paulatinos foram muito próximos.

Omindá é o novo álbum, lançamento, do cantor, compositor e multi-instrumentista Andre Abujamra. A temática é da água, influenciada pelo Candomblé, e a complexidade na elaboração e no formato do projeto faz dele um épico megalomaníaco.

A impressão, depois das primeiras audições, é de entusiasmo e animação. Arranjos complexos e elaborados na formação e na estrutura, mas suaves e instigantes aos ouvidos.

As pesquisas em torno de Omindá o levaram a alguns países. Argentina, Bulgária, Estados Unidos, França, Grécia, Índia, Japão, Jordânia, Mali, Portugal, República Tcheca, Rússia, Turquia e Uruguai (ufa!!!) em projeto financiado por ninguém mais que ‘si mesmo’. Não tem Rouanet, patrocinador,
nada. É um projeto pessoal pelo gosto, pelo prazer, pela vontade de mais.

No show de lançamento, no Auditório Ibirapuera, em SP, o músico comandava 40 pessoas no palco, sincronizados, todos, com material gravado de artistas de 13 países aparecendo na tela (gravados, todos, por ele), em locações pelo mundo e emendando uma participação, ainda que não presencial, em telas convergentes.

A maior parte dos músicos, ele não conhecia. Fazendo perguntas para o Google do tipo o melhor flautistas indiano, entre outras, entrava em contato, trocava informações, músicas, editava, pedia acréscimos e concluía. E Abujamra fez, ele mesmo, as partituras para todos os instrumentos e tudo foi gravado para o projeto.

A base musical foi da Orquestra Filarmônica de Praga e do Mistério das vozes Búlgaras, um coro de senhoras baseado em sua capital, Sófia. Participações de cantoras portuguesas, músicos beduínos gravados de madrugada no deserto da Jordânia, diferentes artistas brasileiros, entre outras dão o tom de experimentalismo, novidade e o vulto do projeto.

A cada audição dá vontade de mais. Mais do mesmo e mais de outros experimentos. Igual, mas diferente!