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domingo, 27 de abril de 2014

tanto mar

                                               
                                         Marina de la Riva canta Caymmi

O tom era de nostalgia e elegância. Isto, se sentia, se percebia pelo palco, pela cantora, pelo repertório, pela plateia, até.

Calma que já me explico.

Já vou falando  do show da cubana feita brasileira, Marina de La Riva, em homenagem ao centenário do cantor (e poeta) baiano, Dorival Caymmi.

Começando a história da elegância, aí também, ela era, sem dúvida, a protagonista. Além da noite, além do show, mas dividindo o papel principal, no caso da música, com Caymmi. Nada ‘modernete’, contemporânea, ‘indie’ ou signo que o valha. Não. Charmosa e elegantemente longa e perolada.

O quinteto que a acompanhava, aprendi em leituras  posteriores,  apresentava uma formação regional tradicional antiga, que dominava o cenário musical de então.

O cenário, simulando velas de saveiros ao fundo, nos levava ao mar. E o mar, bem, brasileiros que somos, o mar a Caymmi, sempre.

O público. Bom, o público admito ser conexão e inferência. As ondas levaram longe a cena indie, frequentadora dos SESC da vida (da qual não me excluo, desafortunadamente). Composto majoritariamente por senhores e senhoras (dois quais também não me excluo, orgulhosamente), cheios de dignidade, nós, o público, embarcamos, todos, mar adentro!

E como me acontece com frequência considerável, a música, a certa altura, conversou com meu estado de espírito, que, ultimamente anda fluente no idioma da saudade.

                                “Ai  ‘sodade’ matadeira
                               Quando eu caço e que não acho
                               Meu benzinho em minha beira…”

Roteirizando o show por suas conexões emotivas do repertório Caymmi e escolhas suas latinas, pelos significados das canções que em sua infância desaguavam, Marina de La Riva nos deixa entrever, na música, suas raízes cubanas. O repertório latino/conexão, os arranjos, a levada, a toada,.

Cubana, mas brasileiramente, entendeu?

domingo, 20 de abril de 2014

viagem 'trilhada'

                                          Bowie no MIS

O tamanho da fila andou assustando e desanimando o público e provavelmente afastando alguns. Mas, encarado este primeiro obstáculo, colocamos um fone de ouvido e embarcamos em uma viagem.

O Museu da Imagem e do Som de São Paulo apresentou, nos último meses, a exposição ‘David Bowie’, baseada na carreira do artística do cantor e músico, idealizada pelo Victoria & Albert Museum (V&A), de Londres.

David Bowie: The Exibition, organizada de forma temática, não cronológica, nos traz suas músicas, videocliples, apresentações ao vivo, trechos de documentários, set lists, manuscritos, desenhos, fotografias, análises de sua obra estética, o figurino de cada fase, um ‘sem-fim’ de significados que não o resumem, o ampliam a nosso olhos.

Armados com fones de ouvidos trazendo musicas, depoimentos, trechos dos filmes e, assim, roteirizando nossa visita, através de sensores em cada novo ambiente, a cada nova peça apresentada, deste imenso quebra-cabeças chamado Bowie, éramos conduzidos em uma viagem em meio a inúmeros personagens e performances lendárias.

 Ali, em meio a tantas representações fica bem claro, eloqüente até, seu papel de brilhante personagem de si. Dentro de sua vida multifacetada  e suas performances únicas, ele parecia, simplesmente, dar vazão àquilo tudo que se manifestava dentro de si e a exposição bem dimensiona sua trajetória para além de sua carreira como cantor e compositor.

A intensa caminhada, sonoramente trilhada, era toda pontuada por peças que destacam suas referências culturais, conceituais e estéticas, além de nos revelar, muitas vezes, os caminhos de seu processo criativo, reciclando influências diversas.

Fechando com seu “Verbalizer”, programa da Apple que, a partir de entradas de palavras, construía sentenças, que ele utilizado para ajudá-lo na composição das letras de músicas, lançamos pulsão criativa,  figurinos, significados, referências, personagem de si, camaleão! O resultado é Bowie!

domingo, 13 de abril de 2014

em Tom maior

Ron Carter

Absolutamente perdida dentro de mim, me encontrei. Na suavidade e  candura da bossa Jobim e na levada dos insights e do acompanhamento ‘Jazz’ de Ron Carter.

Hesitei várias vezes, e muito, em ir ao SESC àquela noite, para a bossa, para o Tom, para o Jazz. Não por eles, por mim, pelo tempo fechado em meu peito. Pela tempestade que lá ia se armando. Ir para a música, para o jazz, para o Tom ou ir para a cama, agora que chove, com Tom e Ron, igual mais diferente.

Sonhando com o ar fresco da janela aberta de meu quarto, com os sons do jazz e da chuva se confundindo, lençóis limpos e frescos, um banho e um vinho. E eu.

Juro que quase me convenci, mas logo aos primeiros acordes, tive imediata certeza da escolha certa. O trio Jobim, grupo que acompanhou o compositor por 15 anos, junto a Ron Carter, jazzista que participou de várias gravações de álbuns do brasileiro, me pegaram pela mão e me embalaram o sorriso por algumas boas horas e muito boas lembranças na sequência, determinando um repertório de todo o final de semana.

A bossa;
A sofisticação,
A delicadeza,
A identidade;
A memória afetiva de cada canção.

Com a entrada do mestre do Jazz, o SESC se iluminou. Com ele tocando, se entregou. Aquele negro jazz música ritmo.

O balanço da bossa no violão, no piano e bateria, conduzidos e coloridos pelo contrabaixo pulsante de Carter. Em músicas suas, vemos o quanto, do Brasil e da bossa, ele traduziu. Bem traduziu em um repertório carregado de brasilidade, na ginga e no Tom (!).