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domingo, 18 de março de 2012

leveza e graça em terreno 'sagrado'

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Um novo Sumo Pontífice é recém-eleito, no secreto ‘conclave’, reunião dos cardeais para eleger o novo Papa na Capela Sistina, diante da morte do último.  No entanto, tomado por uma crise de pânico, ele sequer consegue chegar ao púlpito para saudar os fiéis que aguardam ansiosamente diante da capela para saudar, e conhecer, seu novo líder.

Assim tem início ‘Habemus Papam’, novo filme de Nanni Moretti, que, em enredo ousado, fala da igreja com irreverência, trata temas ‘sagrados’ com humor e leveza, nos trazendo os bastidores do vaticano.

O novo papa, em momento algum questiona sua fé. Ele parece mesmo é olhar para si e não se julgar capaz de liderar o catolicismo. Diante deste bloqueio, um psicanalista é convocado para por fim à crise. Como para o catolicismo o inconsciente não existe, o que está ali é a alma, as sessões terapêuticas do novo papa nos trazem um humor fino. E estas sessões são públicas, trazendo todos os monges como ouvintes, como ‘testemunhas’.

Nos comove a solidão do novo papa eleito, diante de suas incertezas e seus questionamentos.
O absurdo das realidades confrontadas dirige a graça do filme. O mundo dos monges é surreal para o psicoterapeuta, interpretado pelo próprio Moretti. E as crenças (ou falta delas) do psicoterapeuta  assustam os monges. E nos fazem rir. O filme é todo conduzido com muita graça e leveza, sem desrespeitar, no entanto, em momento algum, a instituição da Igreja.

Muito notória, ao princípio do filme, é a riqueza, no detalhe, dos rituais da igreja católica, na morte do Sumo Pontífice e o secreto conclave para eleger o novo papa. Neste momento, Moretti ousa penetrar nos pensamentos dos monges, trazendo mais graça à sequência.

Um filme inusitadamente leve e divertido ao transitar por um terreno proibido. Um roteiro original e uma excelente produção. 

sábado, 17 de março de 2012

viagens 'entremundos'

De passagem por BH um final de semana desses, me decidi a estender minhas fronteiras ‘Sescianas’ a uma unidade recém inaugurada por lá, o SESC Palladium.

Queria ver uma mostra ou uma exposição (não me lembro que nomenclatura ou formato a reportagem que li adotava) inserida na temática ‘street art’, que me é tão cara, tanto me atrai por seu caráter informal e espontâneo e também por ter uma linguagem tão própria.

Mas chegando lá, o que li (ou intuí, não sei bem) que seria uma mostra, se revelou e se limitou a um único painel.

Mas estando já por aquelas fronteiras, me decidi a ficar e ver o que mais me trazia o SESC mineiro. O que mais do mesmo, diga-se de passagem. Queria algum algo dentro do conjunto artes plásticas.

E aí, descobri uma exposição de Maria do Céu Diel, uma artista de Porto Alegre, mas já desfrutando de certa inserção internacional. E o release da exposição "Entremundos" me fisgou o interesse.

O que mais me atraiu foi o fato de sua obra consistir em um grande “rascunho” de todo um processo criativo. Colagens, gravuras, cadernos de desenho, livros de lugares por onde ela passou e que conheceu. São as “viagens” particulares e peculiares de sua mente acerca de viagens concretas que ela teve, e tem, vida afora. Me pareceram frutos vários de seus caminhos e ‘des’caminhos ao redor do mundo.

Um quebra cabeças geográfico traçando seus contornos em diferentes materiais e fazendo da máxima “o meio é a mensagem” seu lema.

Livros de desenhos, colagens, gravuras e etceteras vários nos traziam as peças deste quebra-cabeças e nos provocavam na delimitação de suas fronteiras: O que é de quem?

E assim me descobria, por vezes, tentando traçar alguma identidade entre aqueles pedaços de mundo ali retratados e sua localização cartográfica: - A que pedaço de mundo pertencem estes pedaços de coisas?

E as obras carregavam todas o mesmo título: ‘Obra sem título’.

O que me perturbou, a princípio, me fez questionar, com o passar das horas, até que ponto um título, sobretudo em arte contemporânea, não nos direciona o olhar. E dar um nome a uma obra seria, em si, um novo trabalho. De leitura e interpretação. Trabalho este que pode, sim, ficar a cargo de todo ‘interlocutor’ daquela obra.

Até que ponto não seria interessante construirmos, nós mesmos, com nossas referências pessoais, nosso hipertexto cognitivo, nossa leitura daquilo que se apresenta diante de nossos olhos.

E até seria uma exposição interessante: as várias leituras da obra de fulano de tal.

E Poliana, Maria do Céu, gostou da leitura particular que ela fez de sua obra e das perguntas que se colocaram para ela…

quinta-feira, 1 de março de 2012

sensíveis detalhes

Engordando os questionamentos que me trouxe a exposição da Jac Leirner, que fui há pouco tempo, na Pinacoteca do Estado, uma outra exposição, Sensíveis Detalhes, A Grécia vista por Outro Ângulo, do grego Michele Angelillo, no MUBE, veio somar nas mesmas e em outras questões. E torná-las ainda maiores.

Como já andei tecendo palavras por aqui, a obra da Jac Leirner coloca muito fortemente o questionamento dos limites e definição do conceito de arte. Ao nos trazer objetos vários do quotidiano, e deslocá-los de seu contexto original, ela nos dota de novo olhar. Em uma redefinição de todos os aspectos de nosso ‘hipertexto referencial’ para avaliação do que se exibe à nossa frente, nos vemos desnudos de parâmetros e paradigmas e nos propomos a construir uma apreciação que parte do zero, isenta de pré-conceitos.

E Michele Angelillo em seu ‘Sensíveis Detalhes – A Grécia Vista por um Outro Ângulo’ amplia tais questionamentos e traz novas variáveis. Outras questões que se colocam aqui são o ‘porte’, a magnitude e o 'caráter acessório' de alguns dos 'objetos' retratados, trabalhados, focados. Ao nos trazer dimensões diminutas e formais acessórios, a ações e objetos, desloca a atenção para sensíveis detalhes, antes desapercebidos.

Angelillo lança uma arte que mescla fotografia e técnicas radiológicas. Fato que se justifica por sua atividade profissional: médico radiologista.

Fotografar é atribuir importância... e direcionar olhares. E é isto que Michele faz bem. Nos traz todos para um universo antes 'desconhecido', os acessórios, os 'sensíveis detalhes' de nossos dias, de nossa vida, da Grécia e do que a compoe. E nos torna capazes de captar a poesia oculta no cotidiano. Sua fotografia entremeada por esta técnica torna-se uma forma de distorção ao passo que configura uma forma de desnudar, através do olhar, um mundo quase sempre oculto, porque acessório.

De maneira discreta, as obras apresentam aos visitantes os “sensíveis detalhes” que estão presentes no cotidiano grego. Assim, abre nosso ponto de vista e perspectiva. O olhar do artista nos torna capazes de, através dele, enxergar arte onde antes víamos somente peças do cotidiano. A Beleza maiúscula em objetos minúsculos de nosso dia a dia.