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domingo, 30 de agosto de 2015

traços e cores


Com seu traço de forte identidade, vocabulário de símbolos e arranjos cromáticos, Joan Miró passeia por São Paulo e faz pouso no Instituto Tomie Ohtake.

A forte personalidade e a potência de suas linhas identitárias, de contornos muitas vezes surreais, fundem 'pintura' e poesia no que nos parece uma abordagem alegórica do insconsciente.



'Pintura' foi grafada assim, entre aspas, porque Miró foge claramente deste estilo pictórico, concentrando sua linguagem em traços e cores e criando, assim, um vocabulário singular de símbolos.Tudo leva à lógica do desenho.  Um desenho ‘ágil’, espontâneo e de personalidade.


A exposição em cartaz no Tomie Ohtake apresenta um recorte de cerca de 50 anos da produção do artista, com destaque a seu interesse pela experimentação e evidencia, desta forma, como o artista construiu uma linguagem genuína e particular.



Na forma em que se organiza, a mostra é algo didática,nos apresentando em bons textos, ao decorrer da exibição de obras, suas  principais e peculiares características. Vale a fila tendendo ao infinito, que eu tive a graça de nem passar perto.  Presente de meu filho que ainda nem chegou e já me enche de arte!



domingo, 23 de agosto de 2015

instinto nascente, amor crescente


À medida que  sinto e vejo crescendo meu ventre, à medida que tenho contato com evidências desta vida que segue se desenvolvendo em mim, sinto, no detalhe, o nascer e o crescer do instinto materno.

A sabedoria popular já proclama que quando nasce um bebê, nasce uma mãe. E aí não se encerra simplesmente o caráter biológico, já que nascendo uma criança, há necessariamente uma mulher, uma mãe que a faz real, possível e viva, enfim. Aí, tenho sentido, está, especialmente, o caráter afetivo. O sentimento que segue se construindo e crescendo por toda a gestação. O instinto materno. A energia maior que conecta toda mãe ao gerado e criado por ela, física, psicológica e emocionalmente.

Tenho sentido no cuidado cotidiano, no prazer e no esmero em ‘nos’ fazer bem em cada decisão e atitude, na vontade de saber mais para buscar mais. O amor, o cuidado, a proteção vão tomando seu espaço no coração e não nos deixam mais agir por nós, simplesmente.

Tive, esta semana, uma prova forte de que eu não sou mais só por mim. Não ajo em meu  nome, simplesmente. E não é consciência, é instinto. Não é razão, é emoção, pura e forte. Sempre fui sem medidas e sem restrições no terreno cultural. Desbravando qualquer tipo de ‘relevo’, por mais acidentado ou conturbado que possa parecer o caminho, me faço chegar lá e me faço voltar, d’alguma forma, não necessariamente confortável, para conseguir  ver ou assistir ao que quer que tenha avaliado bem e definido necessário ao meu repertório de referências.

Mas descobri que algo ou alguém além de mim anda me guiando e me conduzindo o comportamento, junto do pensamento.

Evidência 1: show do Ney Matogrosso no HSBC Brasil, em lugar deveras ermo em dias não úteis. De dentro daquele espetáculo múltiplo, na música, na performance, nos trajes, na dramatização, na iluminação, em tudo, vigiava o relógio para sair antes do show terminar, 15 minutos antes, 11:15 da noite, para que não fosse difícil que um taxista me levasse até a estação de metrô mais próxima.  Uma corrida deveras curta, frente à forte demanda que tal evento representa. Uma necessidade frente ao forte receio gerado pelo isolamento do lugar.  

Evidência 2: apresentação do Grupo Corpo no teatro Alfa, um lugar ainda mais ermo que o primeiro. Aqui, a decisão foi mais radical em função do isolamento mais evidente do local. Pesquisei bem, é fato. Mas decidi por não ir, pelo afastamento, por ser domingo e ainda mais afastado, portanto, em uma região demograficamente institucional. Habitantes, só aqueles  dos dias úteis. Aos finais de semana, passeamos entre muros, portas e fachadas fechadas  e trânsito zero.  E eu (ainda custo a acreditar) não fui à apresentação do grupo Corpo, planejada e com ingresso adquirido, há semanas. Não fui e não iria. Assim não. Diante da insegurança gerada, perdi o prazer da arte ali performada.

Pois...  diante destas evidências e da dor nenhuma por estas significativas perdas culturais comecei a me sentir e me saber outra. Eu sou é eu mesma, mas agora que sou mãe, sou outra. Poli são, sim, várias, mas a mãe que ora cresce vai tomando espaço e tornando suas razões preponderantes, entre muitas. E não me arrependo e não fico aventando possibilidades. Não fui porque não podia. Ponto. E meu coração, pulsando junto a meu ventre, me segreda que estou certa.

domingo, 9 de agosto de 2015

movimento feito sentimento


À medida que ganha corpo, ao passo que eu ganho tamanho, o meu guri vai se revelando um  inquieto. Eu que, até há pouco, reclamava todos os dias, com todos, que ainda não o sentia, agora o sinto muito e forte, sinto que tenho companhia o dia inteiro, se comunicando comigo a todo instante. A médica de um dos ultrassons me falou, para minha surpresa na ocasião, que o bebê, o meu guri, era bem agitado, se mexendo bastante, qual um peixinho, nadando no líquido amniótico, pequenino que ainda era.

Hoje, bem crescido, já o sinto bem e carrego no sorriso esta percepção contínua.Toda ocasião que pouso minhas mãos e minha atenção sobre meu ventre, em poucos minutos ele está junto a mim, me causando surpresa e me fazendo sonhar.

É tão gostoso e significativo, meu filho, tê-lo comigo em tudo que faço e amo. Tê-lo fisicamente, dentro de mim e tê-lo em perspectiva, de um futuro muito próximo, dividido. Dividir contigo cada opção de comida, de música, de ideia para a nova casa, de novos objetivos, de tudo que me dá prazer. Imaginar o que você gostaria, o que te faria bem, o que seria você, o que ganharia tua opção e teu desejo.

Imaginar que, por vias ind’ocultas, tudo que me faz sentir bem, que me faz sorrir por dentro, que me dá aquela alegria gratuita, imaginar que tudo isto chega a ti. É outra forma de alimento que te passo, pelas veias que transportam nosso sangue e suspeita-se também fazer entrega de endorfina.

Endorfina caramelizada, ao leite, com flocos crocantes é meu principal objetivo em tudo o que busco ingerir e fazer e sentir hoje, do alimento, à música que ouço, ao exercício físico cotidiano, a tudo, todo dia. E que exercício gostoso! Agora, é tudo teu. É parati. É para te fazer crescer, te fazer sentir bem e te plantar desde cedo este sentimento poliana que minha mãe, a tua avó, me presenteou ao assim me nomear.

O de achar um sorriso escondido em cada peça de teu cotidiano. Endorfina caramelizada. É  o que guardo com carinho para você, meu amor, em todas as minhas escolhas. É o que traz este chá que tomo depois das refeições e que escolhi parati, como todo o resto de minhas opções cotidianas, o ‘blueberry bliss’. Porque são lampejos de felicidade que quero trazer a ti. Com sabor de blueberry está gostoso, não?

Fica bem aí, coração, que te espero aqui, te querendo mais todos os dias.