Translate

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

imagens humanas


Havia já algum tempo que me postergava em meu 'roteiro cultural' uma visita a uma foto-galeria aqui perto de casa. Sempre que passava pela porta, me prometia: - “próximo final de semana”.

E ontem passando por ali, com um destino já pré definido, claro, resolvi mudar o discurso… e o destino. Nada de próximo final de semana, é agora. Entrei. E me surpreendi.

Conhecer o trabalho do fotógrafo João Roberto Ripper foi real e literalmente uma boa surpresa.

Lá havia dois trabalhos distintos expostos. E sim, os dois conversaram comigo. Um era com Cartola que, para mim, já se basta. Na minha opinião, Cartola não requer grande trabalho, estético, ou imbuído de significâncias, para encantar.

Cartola se basta. Basta sua voz. Ou no caso de uma exposição sua imagem ou sua história… sua figura!

Mas o trabalho de João Roberto Ripper, Imagens Humanas, me surpreendeu e comoveu.

Além do forte e incontestável apelo estético; ângulos, luz, foco, olhar; seu trabalho nos traz forte e consistente denúncia social; significado. É um trabalho que, com seu tom de denúncia, se situa bem além da documentação.

Sua exposição explora a questão das ligas camponesas, ligas indígenas e o trabalho escravo enquanto temáticas. É a ótica dele, do Ripper, sobre esse “Brasil oculto”.

Um trabalho belo, consistente e de conteúdo forte e comovente!




sábado, 26 de novembro de 2011

minha tradução de meus dias felizes...

Diante de tudo que aconteceu em minha vida, todos os (des)caminhos recentes por que passei, as pessoas se surpreendem muito por eu não ter me deprimido, seguir positiva e otimista, buscas mil me rodeando, tudo ao mesmo tempo agora, como sempre fui.

A resposta a estes tantos questionamentos está em meu, digamos, 'alicerce'. Em minha raiz, na minha razão de ser. Sendo absolutamente redundante, é que sou poliana. Além de Poliana, sou poliana. Tenho este nome em função da moça da escritora Eleanor H. Porter. Quer dizer, da menina e da moça. Apesar de que eu, Eleanor, acho que já me fantasio, corpo e mente, de mulher.

Dona Márcia Araújo, quando estava grávida de mim, leu este livro, se encantou com a moça do jogo do contente e me deu este nome. Então, ser poliana está em minha raiz, minha razão de ser, literalmente. Só estou, então, Dona Márcia, tratando de ser fiel ao teu propósito ao me dar este nome. Diante de tudo que me aconteceu, estou aqui, viva e quase sem sequelas. A única 'lembrança' que me resta de tal acidente em meu percurso de vida é a falta de memória. De uma memória 100%. Já estive em 0% e hoje estou em algo entre 70 e 80%, creio.

E sendo poliana outra vez, e sempre, um lado positivo desta perda de memória é não me lembrar do(s) lado(s) ruin(s). Não tenho nenhuma lembrança de dor, do acidente mesmo, dos fatores condicionantes (o que e quem), dos dias, meses nos (3) hospitais em que fiquei...

Além disto, sou virginiana. Não, não acredito NADA em astrologia. Mas tudo que dizem da virginiana, coincidentemente sou eu! Então traço objetivos mil o tempo todo! E estou sempre na iminência de um gol! Muitas, quase diárias, pequenas vitórias. E saber contabilizar estas pequenas vitórias é um estimulante absoluto para novos objetivos e dedicação a todas as muitas 'terapias'.

Para uma agnóstica, que tinha medo da morte me tornei uma praticante absoluta do carpe diem! É aproveitar o aqui e agora porque esta vida pode nos trazer significados muitos. Aproveitar com força tudo, agora, na hora em que acontece! Porque amanhã, posso não me lembrar, então o hoje, o agora significam MUITO para mim... Significados intensos e extensos que já não estão cabendo aqui em meu peito... estou derramando sentido de vida...

Estou, então, a caminho de deixar este acidente para trás, em TUDO! Só um resultado muito valioso vai me ficar. O aprendizado. Olhar para trás e ver que passei por cima de tudo tanto não tem preço, não tem tamanho. É um sentimento enorme e um valor à vida e ao que tem de humano ao meu redor... tudo tanto... Porque estou derramando vida porque eu "envergo mas não quebro!"


Envergo Mas Não Quebro
Lenine

Se por acaso pareço
E agora já não padeço
Um mal pedaço na vida
Saiba que minha alegria
Não é normal todavia
Com a dor é dividida

Eu sofro igual todo mundo
Eu apenas não me afundo
Em sofrimento infindo
Eu posso até ir ao fundo
De um poço de dor profundo
Mais volto depois sorrindo

Em tempos de tempestades
Diversas adversidades
Eu me equilibrio e requebro
É que eu sou tal qual a vara
Bamba de bambú-taquara
Eu envergo mas não quebro (2x)

Não é só felicidade
Que tem fim na realidade
A tristeza também tem
Tudo acaba, se inicia
Temporal e calmaria
Noite e dia, vai e vem

Quando é má a maré
E quando já não dá pé
Não me revolto ou me queixo
E tal qual um barco solto
Salto alto mar revolto
Volto firme pro meu eixo

Em noite assim como esta
Eu cantando numa festa
Ergo o meu copo e celebro
Os bons momentos da vida
E nos maus tempos da lida
Eu envergo mas não quebro

domingo, 20 de novembro de 2011

foi um rio que passou em minha vida...

Bom… começarei sendo repetitiva… e até mesmo redundante: ELEGÂNCIA!

Sim, redundante porque Paulinho da Viola já se tornou um sinônimo de elegância. E repetitiva, bem, porque todos ao meu redor sabem bem do que estou falando porque já devem ter escutado, umas muitas vezes, esta frase de mim. Sempre repetida como um achado: Como pode tanta elegância em um terreno assim, popular por excelência, o samba?

Porque "é tocado pelas cordas de uma viola, é assim que o samba vem..."

E porque é um universo particular. Só seu! Em meio a homenagens à sua Portela, à Mangueira de Cartola, em meio a seu tradicional e envolvente repertório ele segue nos trazendo mais de sua sutileza, delicadeza e precisão.

Sua elegância e suavidade se fazem presente, inclusive, em suas contextualizações, nos enchendo de significados e nos apresentado às razões de ser de seu samba.

Delicadeza, suavidade, elegância, precisão, palavras que a priori não servem para adjetivar o samba. Incongruentes e até mesmo paradoxais. Não fosse Paulinho.

E ele chega a nos trazer temas filosóficos / existenciais em seus sambas, sem soar pretensioso ou banalizá-los! Simples… como o samba!!!

Saí dali com o peito derramando satisfação e lirismo. E afinal, "não sei se toda beleza de que vos falo, sai tão somente de meu coração!".

Mas, de qualquer maneira, "foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar..."

sábado, 19 de novembro de 2011

lô borges me dá as mãos em delicioso passeio pelo clube da esquina

Não querendo ser 'bairrista' e já sendo, muito, simpatia de mineiro é diferente até no palco. Até ali em cima, mineiro se mostra conversado. Puxa um papo e engrena na prosa... e na graça...

Ontem fui a um show do Lô Borges no SESC Pompéia e me deleitei com as descobertas do álbum novo, com suas (muitas) lembranças do Clube da Esquina e com sua deliciosa interação com o público. Ao final do show, já me sentia deveras íntima de Lô. (olha a intimidade aí; Lô, só Lô e também no 'de' , 'maneira mineira' de denotar alguma intimidade, senão impessoalizamos com do ou da - claro e óbvio!).

E o grande passeio pela Esquina (a do Clube) começou de trem, como pede o universo mineiro. Começamos a deliciosa sessão nostalgia com a canção Trem de Doido. "Nada a temer, nada a conquistar, depois que este trem começa andar, andar..."

E aí embarcamos todos naquela sessão 'Minas nas Veias'... E sim, Lô, embarcamos em seu trem... "Você pega o trem azul, o sol, na cabeça..."

E o trem passou por nós, platéia embevecida: "de tudo se faz canção e o coração na curva de um rio, um rio, rio..." E este passeio de trem nos trouxe, a todos, deliciosos sonhos saudosistas. Porque "também se chamavam sonhos, e os sonhos não envelhecem...".

E eu, particularmente, experimentei delicioso torpor porque minha memória 'esqueceu', por hora, nosso desentendimento e fui lembrando de todas as canções. Lembranças estas que me tocaram tanto, acredito, "porque sou do mundo, eu sou Minas Gerais...".

E saí dali pulsando vida porque "todo dia é dia de viver!"!


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

samba da vela

Aconteceu hoje, no SESC Vila Mariana, show do Samba da Vela. Samba da Vela que eu conheço, adoro e já havia comprado ingresso junto à leva dos ingressos sescianos que compro aos primeiros dias dos meses todos, sempre.


Mas confesso que estava desanimada e considerando de fato a hipótese de não ir. Havia passado a noite inteira de ontem viajando, ônibus BH – SP. E emendei a noite ‘itinerante’ a um dia de trabalho. Aí, haja energia e disposição.


Mas a poliana virginiana aqui não se permite perder um algo algum dia planejado e algum dia querido (da querência). Feliz decisão, bendito 'virginianismo'.


Aquela alegria deles foi logo me tomando. O Samba da Vela toca sempre à luz de uma vela, que é acendida ao princípio do show, e segue tocando até que ela acabe ou se apague. E nesta noite em que eu tinha toda minha energia exaurida, consumida, mais que a vela, a música deles me iluminou o espírito, me trouxe vitalidade e luz aos olhos.


“Acendeu a vela

O Samba já vai começar

a vela é quem chama

Que é viva a chama
Pro povo cantar
A fé que não cansa
Mantém a esperança do nosso viver
O Samba da Vela está esperando você..."


Com letras despretensiosas, criativas, divertidas, de temáticas populares, com todas as características que trazem um bom e saboroso samba de raiz, eles exibiam uma descontração e uma leveza no palco contagiantes. Muitas piadas, brincadeiras e jogos com as letras dos sambas depois um deles disse: “isto aqui está pior que um stand up!”!!! Na verdade estava melhor. Na graça, na leveza, na energia, no ritmo e nas letras! Me contagiou! O Samba é o melhor exemplo do poder da música na condução de nosso humor e ânimo.


E as brincadeiras de cunho ‘social’, sobre raça, classes e afins predominavam. Ao que eles cantam: "Mas que vontade de ser pobre um dia porque ser todo dia, está complicado..."


Muitas músicas embebidas nesta graça e leveza depois, eles cantam, afinal: “quando a vela se apagar e o samba terminar, a comunidade chora...”


E a vela se apagou... mas a luz que a música deles me trouxe vai ficar!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

som da buenos aires de hoje...

Tocando instrumentos típicos e tradicionais de um conjunto de tango clássico, através de composições próprias, eles propõem uma nova visão do ritmo, refletindo o tempo que vivemos. Porque "nuestra generación volvió a acercarse al tango", como dicen ellos!

Em show no SESC Pinheiros, na semana passada, a Orquestra Astillero, argentina, propõe uma visão completamente nova do tango. Ainda segundo eles, é o som da Buenos Aires de hoje e 'reflete as incongruências e loucuras desta selva urbana.'

Sua música, também chamada de Tango de Ruptura, escapa, de certa forma, do tango do imaginário coletivo, nos trazendo algo mais intenso, áspero, "violento", refletindo o tempo que vivemos.

Instrumental a um só tempo intenso, elaborado e delicado. Saboroso, intenso e provocante

queremos MILES

O SESC inaugurou este mês, na unidade Pinheiros, extensa e densa exposição sobre a trajetória do ícone do jazz, Miles Davis.

Organizada inicialmente por uma instituição cultural francesa, a mostra recebeu aqui o nome 'Queremos Miles' e consegue a proeza de ser tão intensa quanto seu 'retratado'.

E sua música se revela maravilhoso protagonista nesta exposição tão jazzy, substantiva e adjetivamente. Diversas cabines, ao longo da longa exposição, nos mostram que de acordo aos caminhos que ele ia fazendo, 'contornos' e 'cores' distintas, sua música ia ganhando...

Diversas nuances, fatos, detalhes nos mostram que sua jornada musical se confunde, muitas vezes, com a história do jazz.

Me surpreendeu o fato de um número MUITO expressivo de grandes nomes do jazz ter estado, em algum momento, a seu lado. Em parcerias e afins. Não menos surpreendente é como ele protagoniza interlocuções com outros gêneros musicais, trazendo sempre um novo jazz, marcado por alguma 'fusion'. Começando com o Beebop e derivando em diálogos do jazz com o rock, com o funk, sempre se reinventado e ao gênero.

E é, além de todo o conteúdo, uma mostra 'multimídia', na qual objetos e mídias vários montam um quebra cabeças e constroem Miles diante de nós, peça a peça. São partituras originais, instrumentos, vídeos, cabines de som, fotos, obras de arte (sim, porque Miles pintava!) e mais roupas, figurinos, discos e uma grande coleção de trompetes.

Queremos Miles. Queremos Mais!