Li em algum canto dia desses, um distante desses dias,
diga-se de passagem, que é ‘nosso papel manter conosco o que vem até nós como
fruto do acaso’. Guardei para mim e repito aos quatro ventos. O acaso não passa aqui ileso. Se ele
carrega um pedacinho qualquer de alguma identidade, tomo as rédeas e interfiro
em sua jornada.
Como tenho uma certa compulsão por expressar sentimentos que
me entornam o peito (é que sou superlativa mesmo! Não sinto, só. Os sentimentos
derramam, entornam, vão sempre além de mim...)
Então, como eu ia dizendo,
quando (sempre que) me derramam assim, gosto de dizer, de falar. Minha paixão pela palavra
é algo explícita. Sim, é mais absoluta pela palavra escrita, mas também
escancarada, mesmo que um degrau abaixo, pelos dizeres.
Um professor de jornalismo me contou que sou expressiva.
Boto em palavras o que vou sentindo; querendo que, quem me lê, sinta o mesmo.
Mas voltando para o propósito inicial deste texto, o acaso, não
lhe dou espaço. Todos que vêm chegando aos meus dias, carregando uma nesga
qualquer de identidade, quero trazer para meu círculo relacional, para alcance
de minhas palavras, porque nelas sou eu inteira. Aqui clamo e proclamo desde
sempre: eu sou é eu mesma!
Uma vez em meu território, sob o jugo de minhas palavras,
meu afeto e minha cozinha, não me escapam mais e saem do território do acaso
para o campo reiterado, frequente ou mesmo ocasional, do relacional. Amigo(a),
colega, companheiro(a), amor(a), amante, parceiro(a).
E nos pratos misturam-se outros vínculos; nas palavras,
outros afetos; nos temperos, muitas conexões; nas músicas... ihhhh... já era, acaso!
Esta história toda é para contar que outro dia, dia desses próximo, desta feita,
ganhei uma conexão literário/poética para esta minha filosofia sentimental.
Estava em Itabira, que já deixou de ser acaso em meus dias,
quando uma conexão recente, atrasada no ímpeto de me fazer uma gentileza, me
disse:
- Eu iria trazer, mas no meio do caminho... (à moda
itabirana!)
Aí um clique! No meio do caminho... o acaso...
Pensei que se assumimos este papel de manter em nossos dias
quem veio até nós assim, inobjetivamente, sem querer, de surpresa e a gente se
identificou, a pedra no caminho não somente faz o acaso, mas se torna seu elogio.
Havia uma pedra no meio do caminho... E eu a quis para mim, investindo em uma
insinuante conexão.
Muita gente na minha vida, as muitas amizades esparsas em
todo canto que piso, são prova de que vale querer, vale fazer!
Porque,sim, podemos ser ruins; o homem é lobo do homem, deveras, mas, paradoxalmente, é sua melhor surpresa. Razão permanente para o ‘quereres’.