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sábado, 5 de fevereiro de 2022

ADAPTAR PARA SOBREVIVER

 

O contágio brutal e incessante da humanidade pelo Coronavírus, nos jogou em uma encruzilhada, quase sem saída. De adaptação ou adaptação.

Como se relacionar, como crescer e procriar, como conviver, com o distanciamento; ou pior, o isolamento, como fio condutor das relações da humanidade sobrevivente? Pois, vamos nos adaptando.

Sim, temos conseguido sobreviver à COVID 19 e suas mazelas respiratórias, mas a duríssimas penas, com restrições muito severas, que nos impõem um distanciamento que contraria, portanto, nossa continuidade, via reprodução.

O vírus, em seus reiterados ciclos, aprendemos com o tempo, sobrevive em cima de mutações intermináveis, com o surgimento e alastramento de novas cepas. E aí, quando nos iludíamos com um contágio em vias de moderação, nova variação ribonucleica do ‘monstro’ nos trancava de novo e de novo e de novo. Iludíamos, porque depois de tantos anos nos distanciando, não nos iludimos mais e aprendemos que não podemos sair de nosso círculo, feito casulo. Demorou, mas quando conseguimos nos condicionar assim, a mortalidade despencou, em todo o globo.

Seguimos, mundo inteiro, em grandes cidades, grandes metrópoles, mas acondicionados em nosso casulo familiar ou de convivência, milhares de comunidades autônomas formando cada sítio, de qualquer esfera urbana. Serviços remotos e sistemas delivery, que já eram uma reflexo indireto da era digital, proliferaram exponencialmente, naturalizando-se (e isolando-nos) em todo o globo.

Ainda acontecem desvios da curva, aqui e ali, humanos que somos, seres relacionais na essência. Ou também algum meio improvável de contágio que ocorre de ‘repentemente’ e se dissemina na velocidade da luz.

Diante de tantas mudanças tecnológicas e biológicas, através do tempo e através desta pandemia, Darwin se mostra mais atual que nunca. Adaptar para sobreviver fez-se lema, nosso, mas também do vírus. Mutante em sua essência, o Coronavírus segue se reconstruindo, RNA a RNA, de modo a desviar de nossa prevenção e seguir nos contagiando, seres hospedeiros.

E nós seguimos nos adaptando, distantes, mas próximos, comportamentos e costumes desconstruídos na essência e reconstruídos em cima de valores avessos à nossa humanidade. Tão longe, tão perto, ‘vida remota’, a todo vapor.

A esta altura do campeonato, corona game em campo por 15 anos, muitas variantes e cepas depois, a transmissibilidade tornou-se campo de extermínio.

No início, pensou-se em estabelecer punições para quem furasse as regras do jogo de isolamento, mas a pouca sobrevivência destes seres nos fez olhar para eles como fundamento de estudos de perfis, DNAs, tipo sanguíneo ou o que quer que seja que faça alguns mais imunes que outros. E esta foi a punição imposta.

Nossa adaptação tornou-se mote de estudos, em novas tentativas, reiteradas e cíclicas. O intercâmbio entre grupos conviventes se restringiu ao mínimo também ou quase se extinguiu. A máscara se tornou parte de nós a ponto de não nos conhecermos mais, sem ela. E não temos ocasião de nos vermos assim.

Não almoçamos juntos, não dormimos juntos, nem usamos o mesmo banheiro. Uma casa de 4 quartos tem 4 banheiros e o álcool, ah, este se tornou acessório essencial, item indispensável, a qualquer dia, qualquer hora, com qualquer um.

As populações mais carentes do mundo inteiro, sempre vítimas inevitáveis de qualquer cepa de acaso, viveram um processo de quase extermínio, uma vez que o isolamento e as restrições sanitárias se faziam luxo em seu campo. Mas aqui também, adaptar para sobreviver, e encontrou-se um jeito de lidar cotidianamente com as faltas, de modo a não fazê-las o tal campo de extermínio.

Nossa procriação, investindo na continuidade da espécie, até que (UM DIA) derrotemos este vírus, em todas as suas possíveis cepas, restringiu-se ao modo IN VITRO e as relações e trocas afetivas ao modo virtual ou remoto. As relações nunca foram tão íntimas, e a um só tempo, públicas, porque em rede.

O que você quer fazer, tem que falar, tem que escrever, para o outro sentir e dar o troco, na mesma moeda, fala ou escrita. As ações, por outro lado, nunca foram tão unilaterais. A masturbação ganhou posições e acessórios como nunca por ser a única opção relacional analógica, de todos, para todos.

Redes sociais de todas cores e todos os tipos, variando por sexualidade, idade, língua,  preferências sexuais, por geografia, por campo de interesse absorvem nossas relações, sem, no entanto, esgotá-las. Não se bastam, não nos bastam. Há sempre alguma coisa ausente.

Nos relacionamos virtual e remotamente, tanto no ofício quanto na amizade, familiaridade ou intimidade e procriamos, continuamos, IN VITRO. É a solidão buscando a solitude, sem alcançar, no entanto, porque humanos, demasiado humanos.

Nosso futuro, este está na adaptação completa da humanidade, vivendo-o inteiro na individualidade ou na derrota este vírus anti-social e egoísta.

Cena e horizonte inóspitos, fica uma frase: “Vida que te quero viva.” A saída deste imbróglio, vivos, um dia a gente acha!