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segunda-feira, 28 de maio de 2012

jorge da bahia e a bahia de jorge




O Museu da Língua Portuguesa hospeda sempre ilustres visitas lusófonas.

É o português, enquanto língua mater, o pré-requisito primeiro dessa ‘hospedaria’.

O hóspede da vez, no entanto, não se enquadra bem nesta categoria adjetiva, nesta classificação que hora lhe dão, de ilustre visita.

Grande escritor do Brasil-Bahia, Jorge Amado nos trouxe uma escrita tão espontânea que seus romances soam naturalistas, mergulhados  em temáticas populares e muito filhos da mistura que somos todos.

Sincretismo religioso, mestiçagem, erotismo, sensualidade, malandragem somados a uma pitada de dendê e a muita semente de cacau nos trazem a Bahia que ele inventou para si e para nosso deleite.

Um dos baratos da exposição é que ela não se ‘resume’ ao universo das letras de Jorge Amado. Ela nos traz sua “densa e oleosa Bahia” nas cores, nos sons, nos tons, nos cheiro e claro, na poesia. E nesta exposição, Jorge faz um passeio completo por nossos sentidos. Sinestésica.

Começamos a penetrar esta reconstrução de teu mundo, Jorge,  pelo ouvido. Cabines com trechos de textos teus ouvidos e lidos a um só tempo abrem a exposição. Começamos por aí uma imersão em teu universo, pedaços da cultura bahiana. 

Daí, passamos a um pedaço de teu sincretismo. Santos de toda religião, de toda cor, com toda sorte de adereços. 

E a mestiçagem, ilustrada não só na extensão do vocabulário dedicado ao tema; amulatado, negro retinto, negro-azul, escuro, branco de leite, alvo de neve, morena, rosada, negro porreta, morena de tez pálida; mas em toda um sorte de adereços que bem denotam esta mistura tão brasileira, esta infinda gama de mulatos e mestiços. 

Da cor do Brasil: todo credo, toda raça.

A sensualidade e o erotismo estão bem representados em uma cabine exclusiva dedicada a esta temática tão presente em sua obra, tão sua. Nas paredes estão letreiros iluminados nomeando as muitas ‘casas da luz vermelha’ ao longo de sua obra. Ainda pelas paredes desta cabine visores que levam nossos olhos, só eles, a trechos sensuais, eróticos, cheios daquela sexualidade latente e pungente, daquela libido natural.

Tudo isto somado a fotos mil, a um histórico das publicações da imprensa internacional, trechos e mais trechos de textos e outros textos, dendê, cacau, longa vitrine de livros, publicados aqui, ali e lá (no estrangeiro próximo e distante, geográfica e culturamente).

E o dendê e o cacau também compõem cenografia tão rica. Paredes que nos surpreendem, brincando com nossos sentidos.

Sinestésica. Ouvimos, lemos, cheiramos, vemos tua Bahia, Jorge. Tudo ao mesmo tempo agora.

“Indagorinha” voltei de lá e me sinto ainda mergulhada naquele universo, sobretudo no ritmo daquele quase dialeto.

Hoje “sei de saber sem dúvida” que Jorge Amado nos mostra bem as cores do viver bahiano em toda sua extensão e que somos todos filhos da mistura que a Bahia representa.

domingo, 13 de maio de 2012

construção

construção

Hoje, mais um tijolo foi colocado em minha obra particular:  minha reconstrução do ‘eu mesma’.  E é uma obra cheia de perspectivas, esta, porque eu, como Clarice*, “gosto de ser explicada para mim mesma. Preciso saber de mim alguma coisa.’. Ou todas as coisas. Tantas quantas possível.

Um processo profundo de autognose. O eu tentando se descobrir em um horizonte de sortidas referências. Entre multiplicadas referências culturais, me acho me entregando e me perdendo.

Hoje foi ‘La Mome Piaf’ quem me tomou pela mão e me conduziu por este labirinto chamado ‘eu mesma’. Minhas lembranças se resumiam ao fato de que gostei e que o filme me conduziu à musica (sim, eu não conhecia quase nada da música de PIAF antes do filme). E foi uma condução tão efetiva que nunca mais larguei desta música que segue, vez por outra, fazendo trilha sonora de meus dias.

E não, não acho um grande filme, uma grande produção, mas uma grande história, com  trilha sonora, ainda maior, atuando como protagonista.

Com a liberdade dos desvios ora desejáveis, sigo me reconstruindo ao sabor de filmes, livros e etceteras vários, que me colorem os dias e venho confirmando, sempre, que eu sou eu. Que se a memória de referências muitas não estão hoje comigo, fazem parte de meu alicerce.  São parte importante do que me forma e me faz Poliana.

*a Lispector.