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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

rayuelas in my mind





Conexões hipertextuais...  Requintes de uma ‘des’memória em processo de reconstrução.

Em uma cantina argentina, com amigos, empolgados com a atmosfera porteña, falamos em uma noite típica, recheada de aperitivos, pratos muy sabrosos,  vino e música, claro!

Nos empolgamos na seção musical, falando no que conhecemos, queremos e buscamos.

Como trilha para o nosso papo, começa uma canção que sempre gostei muito, desde que conheci. E continuo gostando. Desmemória ativa, reconheci de imediato, mas não identifiquei!

Até levantei o tema com os amigos: ‘vejam só, falamos em música Argentina en nuestra noche e vejam o que toca!!!’

No detalhe, não entrei. Que eu conhecia aquela música (sabia até cantar), mas não me lembrava quem eram aqueles! Aquele cantor ou grupo ou projeto.

Colei ouvidos e cabeça na música e fiquei tentando buscar conexões. E, continuamente, sopravam em meu ouvido: Cortázar. Ao que eu alegava, pretensa detentora de uma cultura maior: Caracas… Cortázar é escritor. Porque é que estou pensando nele, assim, insistentemente?!? O que quero saber é o grupo por trás desta canção.

E Cortázar insistia. Ao final, ele já trazia consigo um nome: Amarelinha ou amarelinho. O gênero, não sei, mas achei que pudesse ter alguma relação com o nome da canção.

Anotei um trecho da música (o que eu cantava) para pesquisas posteriores.

Fui para casa, dormi, acordei. Ainda deitada, peguei minhas notas em minha bolsa pela manhã, li, cantarolei e imediatamente me lembrei:  é Rayuela do Gothan Project, baseado no mesmo Rayuela do Cortázar.  Rayuela, termo em espanhol, que significa jogo de amarelinha.

Uma canção que levou ao autor, que me levou ao livro, que me levou ao jogo e sua tradução. É bem um indivíduo com quem ando falando muito, ultimamente, o sr. hipertexto cognitivo. Acordando...

A memória tem razões e caminhos seus, mas construídos por nós, tijolo por tijolo. O jogo, o espanhol, a música, a literatura.

sábado, 27 de outubro de 2012

caleidocópio musical



Uma combinação impecável de recursos visuais e música. Em show colorido por intervenções plásticas, diversas e dinâmicas, Marisa Monte apresenta, no espetáculo ‘Verdade, uma Ilusão’,  seu álbum ‘O que você quer Saber de Verdade.’

Em show pop, belo e inovador, Marisa, no princípio, nos trazia seu ‘barulhinho bom’ escondida, oculta.

Por  traz de uma tela transparente, onde eram projetadas imagens, com base em obras de artistas contemporâneos, ela era uma silhueta. E uma voz. Sentidos se misturavam, sinestesicamente, em uma profusão de significados.

Somente durante a terceira canção se pode ver a cantora. As cortinas se abrem e distinguimos, aí, duas artes, até então somadas (pode?).

As palavras e textos projetados eram, às vezes, legenda para o que se cantava. Como na canção ‘Gentileza’ que trazia palavras do ‘Glossário para Viver nas Cidades’ de Marilá Dardot.

As imagens não traduziam as canções, ou vice versa. Não eram literais, em relação umas às outras. Não. Eram, sim, referências e links umas da outras, aludiam, de certa forma, a uma temática comum. As palavras com as músicas, sobretudo. E juntas, elas conversavam com nossa emoção.

E se misturavam, enchendo o palco de um dinamismo. Cores, músicas, formas, palavras, imagens, SIGNIFICADOS.

Se o álbum divide opiniões entre aqueles que o consideram muito pop e aqueles que ali vêem sofisticação, o show revela-se impecável!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

cartografia Varejão


Encabeçando as boas mostras da Bienal, em programação paralela, o MAM apresenta Adriana Varejão – Histórias às Margens, primeira panorâmica da artista, em que reúne esculturas, quadros , instalações e toda sorte de referências artísticas.

A abrangente exposição resgata e cruza histórias, culturas, estilos e estéticas, tecendo múltiplas e variadas narrativas... à margem.

Em repertório polifônico, ‘Histórias à Margem’ nos coloca diante de fontes históricas e culturais, ortográficas e temporais, cartográficas e literárias, iconograficamente contadas. Histórias marginais, fora do centro, resgatadas, entrecruzadas nas pinturas, esculturas e instalações. N’uma minuciosa apropriação das artes clássicas, chinesa, barroca, entre outras, Varejão nos mostra sua releitura contemporânea, em apropriação material e formal, de temas e estilos clássicos, em obras vigorosas.

É, assim, uma significação muito pessoal a que se constrói em meio a tantos símbolos e ícones por ler e somar.  N’uma espécie de ‘cartografia’ própria, somos conduzidos em viagem pela história, moldada pela arte.

Várias esculturas (instalações?) trazem, ostentam carne, sangue e vísceras nos apresentando, assim um ‘tempo’ destes objetos. As coisas, todas, teriam memória. E suas entranhas representariam isto.

Muitas das pinturas, que também beiram instalações exibem forte materialidade, tridimensionalidade. Sim, mostrando-nos suas vísceras, mas também com pedaços e partes de comida. Uma operação simbólica exibindo possibilidades estéticas da alimentação.

Os espectadores são, assim, convidados a suspender expectativas de formatos e significados e deixar-se capturar por narrativas construídas entrecruzadas permeadas por nuances do inesperado e misturado.