O mote da peça é simples. Inspirados na obra de Clarice
Lispector de uma forma geral, em seu universo – em especial em um trecho do
livro ‘Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres’ – a Cia mineira Luna Lunera,
em parceria com Jô Bilac, apresenta seu novo espetáculo.
Não há uma história no roteiro da peça. Não se trata de uma
adaptação ou mesmo discurso direto. Entre referências do teatro experimental ,
a peça apresenta o reencontro de quatro amigos que, costurando depoimentos e improvisos,
expõem suas inquietações e angústias. Parece um encontro marcado consigo
mesmos. Com o que cada um fez de si.
E é aí que entra
Clarice. Ela parece fonte e alimento, para que cada um encontre ali o que mais
o mobiliza ou traduz.
Prazer, em cartaz no CCBB, traz a obra de Clarice nos
dilemas dos personagens e as transformações por que passam em meio ao
cotidiano. Não há grandes revoluções, clímax ou tensão. São coisas simples,
pequenas epifanias, redimensionando a existência.
Os personagens, os quatro ‘clariceanos,’ na identidade e no discurso, buscam a alegria em meio
a inquietações e angústias cotidianas. E nesta busca reside a simplicidade.
Chama a atenção, o fato de que os diálogos, os jogos de cena
são nitidamente coreografados, estabelecendo uma linguagem corporal em sintonia
com aquele repertório e com as emoções em cena.
Um teatro-dança transparece no trabalho e um jogo de improvisação a
partir do contato.
São temas e ideias e palavras da autora em um processo de
criação colaborativa. Processo que horizontaliza as relações, todo mundo
podendo interferir no trabalho de todo mundo. O trabalho de criação, inclusive,
foi ‘dividido’ com o público. Antes de existir um roteiro eles realizaram um
‘Observatório de Criação’ no qual o público é convidado a conversar sobre o
espetáculo e, esta conversa pode trazer outros rumos à trama, às cenas.
O grupo investe em relações humanas de forma que sobressaem
momentos de poesia. Janelas da alma onde se pode ver um pouco lá fora e muito
lá dentro.