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sábado, 12 de janeiro de 2013

brutal e poético




Monsieur Oscar é um homem sombrio que passa o dia em sua limusine luxuosa, enquanto passeia por vidas paralelas, encarnando diversos personagens. Ele nos parece um ator representando, alternando-se entre um assassino, um pedinte, um industrial e vários outros.

Mas não há qualquer evidência de uma ‘dramatização’, de fato. Em representações despropositadas e gratuitas,  por si e para si, ele nos parece perseguir a beleza e o motor da vida em cada situação, relação, mulheres e os fantasmas da sua memória.

Holy Motors, filme de Leos Carax, não tem uma mensagem precisa ou um roteiro definido. A gratuidade e ausência de explicações de tudo chega a ser perturbadora. Foi considerado por muitos como estranho, incompreensível.

O diretor nos apresenta, de forma brutal e poética, pequenas histórias, de caráter infinito e circular: elas podem recomeçar, se transformar, voltar atrás. Em narrativas múltiplas, que jamais se completam, ou se explicam, sem qualquer mensagem precisa, Holy Motors é certa e absolutamente metalinguístico. Através de encontros pré-estabelecidos, ele vive uma ficção diferente a cada momento do dia. Cada 'encontro', como são chamados seus 'atos', é pré-construído por ele, juntamente com sua motorista.

Assim, ele não é apenas Oscar, mas também um assassino de aluguel, um músico, um idoso  falecendo, uma senhora pedinte. São vários personagens, vários fragmentos de histórias, que não se completam ou se explicam.

O filme é complexo e misterioso. Leos Carax mergulha seus personagens na própria essência da representação, sem munir o espectador, em momento algum, de chaves de leitura. Cabe a ele projetar o sentido da obra neste personagem que é todos os homens do mundo, dentro e fora das telas.

A chave talvez seja esta incompletude que nos move, desde sempre. Brutal e poético.

Um comentário:

  1. A beleza do ato. Sem necessidade de explicá-la!
    Breno.

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