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domingo, 1 de dezembro de 2013

pintaram tudo de cinza


O critério é a arte. Só permanecem nos muros da cidade, grafites assim considerados. E quem os classifica, dentro ou fora deste universo, são os funcionários contratados  para a remoção de pichações dentro da Lei Cidade Limpa, da gestão Kassab.  Tanto quanto no Rio do Profeta Gentileza, anos atrás, “só ficou no muro tristeza e tinta fresca”. “Apagamos o que é feio, o que não é arte”, nos confidencia um dos encarregados de pintar tudo de cinza.

Começando com um belo plano aéreo desta selva de pedra chamada São Paulo,  ‘Cidade Cinza’, documentário de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, nos insere no universo do grafite da capital do estado.  E vamos nos familiarizando mais e mais com o tema, e todas as nuances do debate que ele hoje provoca, através da amplitude dos muitos e significativos depoimentos colhidos.

Muitos grafiteiros conhecidos e reconhecidos, internacionalmente, até, estão ali, munidos de suas opiniões alem de seus sprays e suas cores. OsGemeos, liderando o grupo que conta ainda com Nina, Nunca, Finok, Ise, Espeto e outros, dividem espaço com críticos e curadores de arte, com a equipe contratada do ‘Projeto Cidade Limpa’ e outros personagens desta mesma história  nos colocando seu questionamento das dimensões, contornos e limites a arte urbana, forte componente do caos que tão bem caracteriza São Paulo.

O ‘doc’ parte do episódio de apagamento do grande e conhecido (e mesmo reconhecido) painel ao lado do minhocão, obra d’Os Gêmeos em um momento, para azar da prefeitura, que eles começavam a embarcar em uma carreira (via reconhecimento) internacional, convidados a expor sua arte de rua em um dos maiores e mais prestigiados museus de Londres, o Tate Modern. Diante da má repercussão, Kassab convidou OsGêmeos a refazerem seu trabalho no mesmo local.

Com o amplo espectro de depoimentos significativos ao tema; uma trilha sonora de raiz no hip hop, (muito bem) embalada pela música de Criolo e Daniel Ganjaman, que, além de gostosa, adequada ao tema urbano; uma boa e interessante montagem das cores nas e das ruas de São Paulo; com todas estas boas qualidades, o Doc ainda bem discute os limites da necessidade de expressão individual e as restrições (e os porquês) na apropriação do espaço público.

O grafite é defendido por eles, os autores, como uma arte que dialoga com quem passa. “Por isto eu pergunto, a você no mundo, se é mais inteligente, livro ou sabedoria?”

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