O critério é a arte. Só permanecem nos muros da cidade, grafites
assim considerados. E quem os classifica, dentro ou fora deste universo, são os
funcionários contratados para a remoção
de pichações dentro da Lei Cidade Limpa, da gestão Kassab. Tanto quanto no Rio do Profeta Gentileza,
anos atrás, “só ficou no muro tristeza e tinta fresca”. “Apagamos o que é feio,
o que não é arte”, nos confidencia um dos encarregados de pintar tudo de cinza.
Começando com um belo plano aéreo desta selva de pedra
chamada São Paulo, ‘Cidade Cinza’,
documentário de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, nos insere no universo
do grafite da capital do estado. E vamos
nos familiarizando mais e mais com o tema, e todas as nuances do debate que ele
hoje provoca, através da amplitude dos muitos e significativos depoimentos
colhidos.
Muitos grafiteiros conhecidos e reconhecidos,
internacionalmente, até, estão ali, munidos de suas opiniões alem de seus
sprays e suas cores. OsGemeos, liderando o grupo que conta ainda com Nina,
Nunca, Finok, Ise, Espeto e outros, dividem espaço com críticos e curadores de
arte, com a equipe contratada do ‘Projeto Cidade Limpa’ e outros personagens
desta mesma história nos colocando seu
questionamento das dimensões, contornos e limites a arte urbana, forte
componente do caos que tão bem caracteriza São Paulo.
O ‘doc’ parte do episódio de apagamento do grande e
conhecido (e mesmo reconhecido) painel ao lado do minhocão, obra d’Os Gêmeos em
um momento, para azar da prefeitura, que eles começavam a embarcar em uma
carreira (via reconhecimento) internacional, convidados a expor sua arte de rua
em um dos maiores e mais prestigiados museus de Londres, o Tate Modern. Diante
da má repercussão, Kassab convidou OsGêmeos a refazerem seu trabalho no mesmo
local.
Com o amplo espectro de depoimentos significativos ao tema;
uma trilha sonora de raiz no hip hop, (muito bem) embalada pela música de
Criolo e Daniel Ganjaman, que, além de gostosa, adequada ao tema urbano; uma
boa e interessante montagem das cores nas e das ruas de São Paulo; com todas
estas boas qualidades, o Doc ainda bem discute os limites da necessidade de
expressão individual e as restrições (e os porquês) na apropriação do espaço
público.
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