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domingo, 23 de março de 2014

amor digital


Que extensão estamos dando, ou permitindo, à  esfera digital em nossas vidas, em nossa história?  É uma pergunta que o novo filme do diretor Spike Jonze, ‘Ela’,  deixa no ar. A despeito do argumento peculiar, a estória é verossímil  e nos parece possível, em um mundo em que aplicativos e redes sociais compõem nosso digital way of life.

O filme nos apresenta Theodore, (muito bem) vivido por Joaquin Phoenix, que trabalha em um site que oferece cartas manuscritas a outras pessoas; assim bem introduz o contexto do filme, o domínio de softwares e aplicativos em um mundo de dimensão cada dia mais digital.

Vivendo uma crise após a separação de sua esposa, Theodore  decide adquirir um aplicativo que promete proporcionar momentos reais de interação. O sistema operacional consciente (OS – de operational system), melhor dizendo, a consciência operacional, chama-se Samantha e, vivido por Scarlett Johansson, passa a acompanhá-lo diariamente, full time.  E eles se envolvem.

Samantha é um aplicativo com vontade própria, melhor,  programado para tal. E vivendo até mesmo crises existenciais, ela consegue não soar ficção científica em momento algum.  Merece parêntese a interpretação de Johansson.  Somente através da voz, ela convence Theodore  ( e nos carrega junto) de uma paixão absoluta e de uma vontade própria. Programada para ser perfeita cópia da consciência humana, a OS Samantha nos convence de seu amor.

Apesar  de bem colocar o debate sobre a digitalização em nossas vidas, melhor, DE nossas vidas, em todos os sentidos, no centro do trama, o filme destaca, sobretudo, nossa condição humana, ao fazer do amor, da paixão e muitas de suas nuances fatores condicionantes do argumento.

Tendo a tecnologia como fio condutor, a estória explora, de maneira original, as muitas particularidades de um relacionamento. Todas as dimensões, extrapolando a física, bem expostas e levantadas, engrossam a pergunta levantada por eles, a certa altura do filme: O que é uma relação real? Não se resume ao sentimento?

Não. Semanticamente, não se resume. Se amplia e se confirma no sentimento. E é o filme mesmo que se propõe a nos trazer e nos mostrar a força desta dimensão, explorando outras, adiante da física, ao sabor do pensamento e da imaginação, do sentimento, enfim.

No mundo aqui retratado por Jonze, temos dispositivos adaptados, adequados a toda e qualquer necessidade, via sedutores aplicativos.  No mundo de Jonze, e no nosso, estamos sempre conectados. Sozinhos ou em grupos, em casa ou na rua; permanentemente dentro de nossas self mídias. Desaprendendo, às vezes, a viver a vida como ela é, sem a ajuda do mundo digital, tão à nossa espreita.

Destaque para a direção de arte, tão identitária na filmografia de Jonze. Li, em algum canto, uma análise definindo a estética daquele mundo cibernético como ‘design Tok & Stok’. E enxerguei. E concordei.

Forte indicador do tempo que vivemos, a suposta ficção científica apresentada por Jonze nos parece absolutamente factível. 

Um comentário:

  1. Tô doido pra ver, Poliana!
    O Spike Jonze fez um dos melhores filmes que já vi: Onde Vivem os Monstros (a trilha, inclusive, é da Karen O de Ela). Não sei se cê vai gostar, mas fica aí a sugestão.
    Ah, Adaptação dele, também é ótimo!!

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