Mãe e filha em permanente inversão de papéis. |
Homenagem à Neidinha e à ‘sem’ memória de seu contexto e redor. Perto do dia das Crianças, homenagem à menina que vem se tornando, com os (des)caminhos e desventuras do Alzheimer. Perto do dia dos Professores, homenagem à profissional que um dia a habitou e a trouxe, para benefício da cidade.
Sorriso - foto Sandra Coelho |
Este embolado de frases tentando algum lirismo na dor e celebrando o mais que humano em nós, as mãos estendidas, é uma espécie de introito, introdução à exposição do ensaio fotográfico feito projeto de vida, trabalho e afeto, AlzheimerAmor, por Sandra Coelho, filha da Neidinha e hoje parente próxima do Alzheimer, portanto.
O lugar escolhido tem sua razão de ser na memória feita no coração, aquela afetiva. A Praça Sô Tufim, idealizada (e realizada) por Astolpho Araújo é uma mini Nova Era de anos passados. E é esta a razão de ser do local. Chegando ali, aquele passado próximo estava cheio de rostos familiares a mim, mas sobretudo a ela. Era gente do contexto afetivo/profissional de Neidinha, tentando, todos juntos, sob a regência de Sandra, resgatar afetos e sorrisos de um tempo que não volta, mas que se guarda entre nós, uma interseção emocional.
E partindo da entrada, livro de assinatura, cartazes e homenagens, adentramos a praça cheia, a mesma familiaridade e corredores de imagens feitas ternura.
Sandra convidou Moriá Benevides para o projeto que, antes mesmo da conclusão de suas razões, aceitou. Fotos resgatando memórias e afetos de uma portadora de Alzheimer. Aqui do outro lado da tela deste computador que vos escrevo, imagino que Moriá deve ter ficado aquiescido pela dimensão emocional do projeto, mas também e principalmente pelo desafio de produzir material carregado de significado, com estes contornos emocionais e as limitações impostas pela doença.
Todas as cuidadoras, em qualquer tempo, reunidas! |
E no rico material ali exposto, podia-se perceber o fotógrafo captando olhares e afetos que, vindos de um portador de Alzheimer, ganham muito em significado. A impressão que fica em todos é que diante da desconexão dos neurônios e sinapses, firmam-se aquelas afetivas.
Mas a proposta de Sandra vai além das fotos e se reflete em dois convites atemporais.
O ‘Papo de quem Cuida’ é um grupo criado com e para o acolhimento de familiares e cuidadores e outras pessoas que tenham o intuito de ajudar, entender e/ou enfrentar os múltiplos desafios das várias fases do Alzheimer.
O ‘Rolê de quem Cuida’, por sua vez, traz roteiros culturais e turísticos, fundamentais para quem cuida, proporcionando momentos de descanso e leveza para quem está vinculado aos percalços da doença, através da Terraço Cultura e Turismo, da Sandra, filha e Turismóloga.
Casa cheia, o Amambaí derrama afeto na noite de abertura! |
E aí, depois de tanta foto feita história, a gente entende aquela contextualização inteira. Lugares e pessoas aguardando a chegada da Neidinha, com a advertência de Sandra de que lugares muito cheios de pessoas costumam assustá-la ou irritá-la. Ela chega e seu olhar é parecido aos das fotos do Moriá, transmitindo serenidade e gratidão. Ela não se assustou, sorriu e, me parece, gostou. Recebeu pessoas no canto em que se sentou, vínculos de outrora unidos no agora.
E o sorriso de Neidinha não permite engano: ela gostou! |
Uma doçura no olhar, revelando, como nas fotografias, Alzheimer e Amor!
Parabéns Sandra, parabéns Moriá.
Pela doçura expressa e pela proposta de conversa em torno de uma assunto feito intocável por nosso desajeito e inaptidão em lidar com o que nos dói e não compreendemos. Mas abrindo corações, Alzheimer Amor.
Fica aqui referência das páginas criadas como 'locus' deste projeto, para reunião de iniciativas, contatos, ações, vontades e afetos. Você encontra lá, AlzheimerAmor:
FACEBOOK - https://www.facebook.com/alzheimer.amor/
INSTAGRAM: @alzheimer.amor
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