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sábado, 12 de fevereiro de 2011

memória e identidade

A Rosa Montero, referência que marca minha memória, a certa altura afirma que nossa identidade reside na memória. Hoje, posso dizer que concordo absolutamente. Eu, que passei pelo extremo da absoluta privação da memória, estou vivendo e confirmando tal fato. A ordem dos fatores é absolutamente questionável, mas que memória e identidade se definem, se determinam, se limitam, ou se estimulam, isto hoje pauta meus dias.

Devagar, e sem qualquer 'mapa' por seguir, sem dicas das minhas antigas opções, vou me entregando a hábitos e escolhas que sempre foram meus. Já eram, há muito, parte do que sou.

Se minha identidade é quem vai me devolvendo a memória, por me reconhecer novamente em peças deste meu quebra-cabeças. Em peças de teatro, em filmes, em música, em arte, em leitura... Ver, ouvir, ler, assistir e sentir uma conexão tão absoluta com tudo aquilo e, assim, me entregar de volta ao que já era parte de mim. Ou se é a memória que vai me devolvendo a identidade. Ao me lembrar do que eu era, do que gostava e, assim, me entregar de volta a prazeres de então. Uma escolha.

Voltar a viver coisas que sempre gostei, enquanto opção, racionalmente. Ou uma escolha inconsciente desaguando na memória do prazer.

Enquanto pessoa com vivência prática no tema, acredito, hoje, na escolha inconsciente desaguando na memória do prazer. Por que vivo isto quotidianamente. Começo a ouvir um som. Viajar naquela música, pirar. Sou posteriormente 'informada' que já curtia muito isto antes. Vejo um filme e mergulho fundo naquela linguagem. O filme me eleva, mexe muito comigo. Na sequência descubro que estava entre os meus favoritos.

E aí, a recíproca passa a ser verdadeira. Você, de certa forma, já se certificou que uma vez construída, a identidade permanece, então tem uma inclinação forte a investir em tudo que te contam que era parte de ti. Tudo o que você gostava ou que 'era você'.

Assim, estou relendo agora "A Louca da Casa" e redescobrindo porque criei este
blog com o nome do livro. Me delicio com a forma com que ela brinca com as palavras. Faz da língua seu playground particular. E me descobri detentora de um playground imenso em termos de literatura, cinema, música. Tudo que faz parte do conjunto AVA. Gostava, admirava. adorava. E eu sei que agora posso me entregar de novo.

Minha conclusão, neste caso, é que memória e identidade são parte de uma via de mão dupla. Memória atua na formação da identidade e identidade tem um papel forte na 're'constituição da memória.

Um comentário:

  1. Adorei o blog, a reflexão, a maneira com que lida com as palavras e situações!
    Quando tiver mais tempo lerei o restante.
    Bjos
    Cintia aero

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