Gasta sim, boa vontade e gratuidade. Mas essencial mesmo é o querer. Tendo querência, o resto pode ficar a gosto do freguês.
Pode levar cardamono ou cinamono, puxar para o doce ou para o sal, pimentinha da boa... Tem dias de receita complicada e nomes exóticos, garam masala, turmeric, cominho, coentro, chilli, gengibre; tem dias de canjiquinha, ora pro nobis...
Tem dias que pedem mais alegria e calor e outros que pedem mais carinho e silêncio. Mas em se tendo querência, vos digo e repito, tem erro não 'seu' moço, lhe asseguro e 'agaranto'!
Servir é parte importante de nosso gostar. Aprendi isto com uns amigos árabes, bem longe daqui. A Simbologia da comida e da cozinha por toda nossa história é por demais forte. Nossa hospitalidade tem os pezinhos na cozinha, em qualquer canto do mundo. Talvez seja por onde se começa a entender a cultura do outro, pelos sentidos todos.
E esta partilha de sensações é que deve ser o mote de nossos assados e cozidos. Daí enriquecemos nossas memórias com outros códigos. Ficam os cheiros, sabores, cores e sons a nos remeter um ao outro. Fica o toque. Além de todas as referências que partilhamos em uma boa roda de narguilê, n'um prato partilhado a muitas mãos... infinita rede de associações... hipertexto cognitivo, sensorial e simbólico. Fragmentos de nossas lembranças um do outro, qual colcha de retalhos, sem compromisso de contornos definidos.
Seguimos tecendo. A ver onde chegamos.
Bom também, e por fim, é sentir com o vagar que pedem tais sentimentos, o que o outro provoca em nós. E cultivar. Deixar florir, ramificar, modificar.
Como já disse e repeti algumas vezes, na ocasião de conhecer gente muito da boa e querer mantê-las em meus dias. Me agrada muito a consciência de nossa responsabilidade por manter o que muitas vezes veio até nós como fruto do acaso.
Para acabar com Vinícius:
'A Vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida...'
Eu pratiquei esse sentido especial da comida compartilhada.
ResponderExcluirAgora, já penso em aprender um pouquinho de culinária....
Márcia Araújo
"Gente muito da boa e querer mantê-las em meus dias..." Aaaaah! Isso é bom!
ResponderExcluirlendo esse post, lembrei da casa das minhas tias-avós Débora e Maria de Lourdes. sempre que a famíla reune fica todo mundo na cozinha, seja conversando, bebendo ou comendo.
ResponderExcluirPOLI, a vida como a comida tem que ter tempero. Cada um tem o jeito e o dom de temperar. Já pensou vida sem tempero e comida sem gosto? muito sem graça...
ResponderExcluirPor isto é muito bom juntar amigos e família pra fazer e compartilhar uma boa comidinha, de sabores variados, para temperar bem a vida...
Bjos temperados, Lúcia Pinheiro
Ja fiz parte de um desses jantares da Poli, no acaso. Voltei para um segundo jantar. Quero estar em outros pq você é companhia boa, que acrescenta vida, imaginacao e planos às nossas.
ResponderExcluirTexto saboroso esse, Poli!
Diane
Lendo seu texto não me senti tão longe de casa. Quando deixei minhas Minas trouxe comigo a vontade de experimentar e me deixar experimentar. E posso te dizer, mineiro tem cheiro diferente, a gente reconhece à distancia. Andréa
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