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sábado, 10 de setembro de 2011

de encontros, bem querência e afinidades

É misturar boas doses dos três, uma pitada de sal, com açúcar e com afeto (como queira Chico Buarque) que a receita é infalível. Não gasta bom cozinheiro ou dotes requintados demais, de gente muito 'da prendada'.

Gasta sim, boa vontade e gratuidade. Mas essencial mesmo é o querer. Tendo querência, o resto pode ficar a gosto do freguês.

Pode levar cardamono ou cinamono, puxar para o doce ou para o sal, pimentinha da boa... Tem dias de receita complicada e nomes exóticos, garam masala, turmeric, cominho, coentro, chilli, gengibre; tem dias de canjiquinha, ora pro nobis...

Tem dias que pedem mais alegria e calor e outros que pedem mais carinho e silêncio. Mas em se tendo querência, vos digo e repito, tem erro não 'seu' moço, lhe asseguro e 'agaranto'!

Servir é parte importante de nosso gostar. Aprendi isto com uns amigos árabes, bem longe daqui. A Simbologia da comida e da cozinha por toda nossa história é por demais forte. Nossa hospitalidade tem os pezinhos na cozinha, em qualquer canto do mundo. Talvez seja por onde se começa a entender a cultura do outro, pelos sentidos todos.

E esta partilha de sensações é que deve ser o mote de nossos assados e cozidos. Daí enriquecemos nossas memórias com outros códigos. Ficam os cheiros, sabores, cores e sons a nos remeter um ao outro. Fica o toque. Além de todas as referências que partilhamos em uma boa roda de narguilê, n'um prato partilhado a muitas mãos... infinita rede de associações... hipertexto cognitivo, sensorial e simbólico. Fragmentos de nossas lembranças um do outro, qual colcha de retalhos, sem compromisso de contornos definidos.

Seguimos tecendo. A ver onde chegamos.

Bom também, e por fim, é sentir com o vagar que pedem tais sentimentos, o que o outro provoca em nós. E cultivar. Deixar florir, ramificar, modificar.

Como já disse e repeti algumas vezes, na ocasião de conhecer gente muito da boa e querer mantê-las em meus dias. Me agrada muito a consciência de nossa responsabilidade por manter o que muitas vezes veio até nós como fruto do acaso.

Para acabar com Vinícius:
'A Vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida...'

6 comentários:

  1. Eu pratiquei esse sentido especial da comida compartilhada.
    Agora, já penso em aprender um pouquinho de culinária....
    Márcia Araújo

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  2. Luana Quintassetembro 10, 2011

    "Gente muito da boa e querer mantê-las em meus dias..." Aaaaah! Isso é bom!

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  3. lendo esse post, lembrei da casa das minhas tias-avós Débora e Maria de Lourdes. sempre que a famíla reune fica todo mundo na cozinha, seja conversando, bebendo ou comendo.

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  4. POLI, a vida como a comida tem que ter tempero. Cada um tem o jeito e o dom de temperar. Já pensou vida sem tempero e comida sem gosto? muito sem graça...
    Por isto é muito bom juntar amigos e família pra fazer e compartilhar uma boa comidinha, de sabores variados, para temperar bem a vida...
    Bjos temperados, Lúcia Pinheiro

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  5. Ja fiz parte de um desses jantares da Poli, no acaso. Voltei para um segundo jantar. Quero estar em outros pq você é companhia boa, que acrescenta vida, imaginacao e planos às nossas.
    Texto saboroso esse, Poli!
    Diane

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  6. Lendo seu texto não me senti tão longe de casa. Quando deixei minhas Minas trouxe comigo a vontade de experimentar e me deixar experimentar. E posso te dizer, mineiro tem cheiro diferente, a gente reconhece à distancia. Andréa

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