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domingo, 25 de setembro de 2011

memória e identidade

Armários, gavetas, arquivos, qualquer tipo de depósito de 'guardados', apetrechos que caíram em desuso e estão, portanto, fora do alcance de meus olhos no dia a dia, tornaram-se um playground para mim, ricos em re-descobertas e recordações.

Nas poucas vezes que consigo abrir um parêntese em meus dias "tudo ao mesmo tempo agora" para organizações várias ou para buscar um algo perdido nos armários do passado, acabo me agarrando o dia todo em algo que tinha o propósito inicial de durar uma hora or so...

Me perco me achando e me entrego me reaprendendo.

E vou percebendo, devagar e sempre, one day at a time, que a identidade não faz casa na memória. Apesar de não me lembrar de várias peças do quebra-cabeças de minha personalidade, de vários fatores da soma que me definiu como livros, filmes, músicas, relações, viagens; apesar de muitas vezes não me lembrar de peças significativas até; vejo que EU sou EU.

Com o passar dos dias e uma progressiva entrega a este playground da memória que tenho em casa vou descobrindo que hábitos e gostos que eu acreditava adquiridos pós acidente, pós DESmemória, são reflexo, senão cópia, dessa moça de quem lembro pouco.

E que processo saboroso. Sendo mais Poliana que nunca, considero estes resgates um privilégio. A chance de se ver de fora, por outro ângulo. Sair do olho do furacão, dar uma olhada intensa de fora, avaliar, se reconhecer, se julgar e escolher mudar ou não. É a construção do indivíduo com absoluta consciência, além de alternativas, opções, escolha.

Mas é impagável perceber que as escolhas que você fez a vida toda te traduzem. Conduzem tua personalidade e escolhas futuras independente de você não se lembrar. É seu hipertexto cognitivo, afetivo e simbólico te definindo apesar das lacunas nas raízes evidentes ou óbvias destes hipertextos.

A descoberta deste final de semana em meus guardados 'playground' foi um jornaleco interno da empresa na qual eu trabalhava. Uma edição do 'Gotas a Mais' como era chamado. Ao que pensei: -caraca, não é à toa que meus armários estão todos tão LOTADOS. Até jornalzinho da empresa arquivado.

E resolvi abrir o exemplar para entender se havia motivos claros para tal 'guardância'. E a razão para que eu guardasse esta edição do Gotas a Mais estava estampada ali ao centro do jornal! Uma reportagem comigo e com o Vinícius tratando de nossa então transferência para São Paulo.

E o que me chamou a atenção e me encantou é o quanto meu discurso de então, a respeito de SP, é E X A T A M E N T E o de hoje. Com o uso de um vocabulário igual, até! Não me lembrava que eu já tinha esta opinião antes ou que a expressasse já desde o primeiros tempos. E é igual. Nas vírgulas.

E pouco a pouco, devagar e sempre, em meu incansável processo de reconstrução vejo que a Poliana de hoje taí hace mucho (literalmente!!!)! E sigo incansável na busca por mim mesma porque estou, afinal, me REencontrando!

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