Signos que se (e nos) atropelam. Visíveis e, algumas vezes risíveis, restos do cotidiano; produto final de uma (sua) relação com eles.
Em reunião inesperada de elementos, cheia de cor e objetos, em forte soma de significados, Artur Bispo do Rosário é o grande homenageado da 30ª Bienal de Artes de SP, que este ano reúne 111 artistas.
Com uma área de dimensões mais generosas que a maioria dos espaços expositivos, em apresentação superlativa, a produção de um indigente negro e nordestino, diagnosticado como esquizofrênico/paranoico e que viveu 50 anos de sua vida em uma instituição destinada a abrigar doentes psiquiátricos.
Diante da grande e variada produção do artista, que tinha na arte o produto final de sua relação com o cotidiano, diante de tamanha profusão de significados e questionamentos, diante de suas inquietações, nos questionamos das fronteiras e da relação da loucura, da razão e da arte. Em território subjetivo, criando tantos significados e produzindo sentidos multiplicados, Bispo nos deixa certos da forte relação de arte e loucura, nos trazendo toda uma linguagem sua.
São mantos e estandartes repletos de inscrições, palavras bordadas imersas em classificações, objetos escultóricos feitos a partir de descartes.
Ele criou um ateliê na Colônia Juliano Moreira, manicômio em que passou mais da metade da vida, e ali passou a usar lixo e material reciclado para compor sua obra. “ Não sou artista. Sou orientado para ser uma coisa desta maneira.” dizia. E o que seria o artista que não alguém orientado desta maneira?
A Bienal este ano traz o tema “Imersão das Poéticas. E arte contemporânea é isto. Uma apropriação poética de tudo que nos toca os sentidos e nos revolve o pensamento. Ela questiona e desafia os limites da arte, ampliando-nos. É o olhar.
E Rosário nos traz o emaranhado poético que vibrava dentro de si. O sentido lírico de suas construções, dentro das paredes de um manicômio, nos envolve e nos revolve. Porque ele trazia a arte no pulso.
Belíssimo texto sobre esse gênio que viveu e produziu num universo onde as fronteiras e as interseções entre a arte, a vida e a loucura encontraram uma produção tão rica e tão pungente.
ResponderExcluirHomenagem justa para Arthur Bispo de Rosário na 30º Bienal de Arte de São Paulo e as impressões sofisticadas e sensíveis de Poliana Araújo Guerra.
Breno.