Philippe é um milionário colecionador de artes que ficou tetraplégico após grave acidente. Ele precisa, assim, contratar um ‘cuidador’ para todas as mínimas funções do cotidiano. E é esta contratação e a conseqüente relação dos dois, o mote de ‘Intocáveis’.
Em uma série de entrevistas, cansado de profissionais bonzinhos e adestrados para a situação; pretensos abnegados que juram adorar cuidar de deficientes como ele, Philippe encontra e entrevista Driss, que, a priori, nem queria, de fato, o emprego. Um ‘ex-ladrão’ em condicional que precisa, periodicamente, comprovar a busca por trabalho para não perder seu seguro-desemprego e faz a entrevista certo de que não seria ele, um ex-presidiário, contratado para cuidar de um milionário tetraplégico. Não com estes títulos estereotipados que ambos carregam. Ele queria, na verdade, tão somente uma assinatura que atestasse sua busca e garantisse, portanto, seu seguro.
Justamente em função de seu tom arredio e sua total ausência de compaixão ou piedade diante de alguém imóvel em sua cadeira de rodas, diante da naturalidade de seu tratamento, Driss chama a atenção de Philippe, que decide contratá-lo; mesmo diante de toda inexperiência e da falta de ‘tato’ que ele traz consigo.
Eles vão se afeiçoando um ao outro e começam a conhecer melhor daquele distante pedaço de mundo que cada um deles carrega consigo. Mundos avessos, sem interseções, significados que não se cruzam.
Deste ponto em diante o roteiro nos brinda, de forma divertida, com uma interação crescente entre dois homens que estão em extremos opostos, mas que se sentem, mais e mais, próximos e começam, também de forma muito bem humorada, a compartilhar do mundo um do outro, construindo algumas interseções. Um deleite.
A relação começa a crescer com o ‘aprendizado’ desta outra realidade à espreita. E o filme não apela em momento algum para a pieguice e o dramalhão. Philippe começa a dirimir alguma autopiedade e readquire bom humor. Driss vai, aos poucos, aprendendo sua função e ganha novas referências. No campo artístico, principalmente e muito comicamente pontuadas.
É sua surpresa diante de uma apresentação de ópera e diante dos preços em uma galeria; é o momento em que ele pinta um quadro e Philippe se diverte vendendo como uma nova promessa do mundo artístico. É o preço que seu quadro alcança. E é vendido.São as surpresas que trazem um mundo absolutamente novo que se revela distante em cada detalhe. Uma lógica própria.
Apesar de toda a diferença, eles encontram diálogo e quando aí chegam, emociona. Aos poucos, a amizade entre eles se estabelece e o estranhamento já não dá o tom de sua relação. A química entre os dois protagonistas é evidente. Dos atores e dos personagens.
Marcante é o tom com que são pontuadas tantas diferenças e a naturalidade com que se constrói uma relação de opostos tão evidentes culminando em cumplicidade.
Um enredo absolutamente leve, divertido e, sim, tocante!
muito bom
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