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domingo, 16 de dezembro de 2012

o estranho mundo de luísa



Versão brasileira de um espetáculo Argentino, ‘Luísa se choca contra sua casa’ trata de temáticas universais e delicadas tais como a morte, a solidão, a perda (recheada de) lembranças e a ausência através de um mergulho no mundo interno de Luísa.

A narrativa e a linguagem cênica são moldadas por seu  vocabulário cotidiano, suas vivências, dores e sensações: por um mundo que ela construiu em torno de si. Não há qualquer compromisso com o real ou com a linearidade e sim, com o vocabulário cotidiano de algumas (poucas e fantásticas) relações construídas por ela. Um vocabulário cotidiano sensível, sob forte perspectiva poética  e contemporânea, tratando de temas delicados e fortes para o ser humano: a morte, a perda, o desapego e a solidão.

A montagem brasileira propõe um mergulho no mundo interno de Luísa, que perdeu seu amor num trágico e súbito acidente de moto e precisa reorganizar os espaços dentro e fora de si. Sua vida se fecha em sua casa, compras no supermercado, frases que ecoam no rádio e na relação com os personagens que a rodeiam.

E são, todos eles, parte de seu universo particular. Ela vive em um mundo seu onde o Pedro, seu namorado morto, é ator principal. Além disto, habita este seu mundo, um representante de suas compras e suas horas ao redor do pão de açúcar: um Bombril feito pessoa, feito confidente.

São sentimentos e planos sensíveis misturados a referências corriqueiras. O pão de açúcar se torna um objetivo cotidiano, sem o qual ela perde o norte. Entre sua sensibilidade e seus planos, sentimos sua dor.
O rádio segue ‘ditando’ frases de efeito, dias afora, entre regras de conduta, lemas  e metas de vida, trechos de autores que Luísa adota para si e para os outros.

‘No impossível é que está a realidade’ diz o rádio, em uma citação de Clarice, no ouvido de Luísa. E ela, assim, segue construindo sua realidade com o Pedro, dia após dia, em cada sonho, cada viagem, cada loucura, vivendo sua  ausência, de forma muito presente. Por horas sentindo sua morte e sua falta  em cada pedaço de sua realidade ou por outras, dividindo partes de seus dias, suas ações e decisões.

“Existe um ser que vive dentro de mim como se fosse sua casa.” E Pedro ‘vive’ dentro dela. 

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