O fato do filme estar
em cartaz exclusivamente em shoppings (todos) me colocou um pé atrás. Eu já
tinha um, é verdade, pela grande produção, pelo alarde blockbuster. Isto queria
dizer algo. Nenhuma salinha de rua, pretensamente cult ou mirando no
telespectador por si e em si, não no telespectador secundário, antes consumidor.
Mas, nos últimos minutos do segundo tempo, achei uma salinha
perdida por baixo Pinheiros. Melhor: só eu e outras dez pessoas, no máximo,
achamos.
Cedi a ímpetos nostálgicos, orbitando anos 80 afora e fui
ver ‘Somos Tão Jovens’, longa que
retrata a juventude do líder do Legião Urbana, em Brasília. Além da boa descoberta da sala, o
filme me surpreendeu. Registro autêntico de uma época tão importante para a música
nacional, ganha pontos por não apelar para sentimentalismo. O filme não
é recheado de clichês, como se poderia esperar do tema: cinebiografia de um
músico, ídolo de proporções messiânicas, que teve morte prematura, no auge de
sua carreira.
Apesar do título destes escritos que se seguem, não, o filme
não trata da morte do protagonista. Nem sequer aborda. O filme se estende do
período de formação do grupo, antes mesmo de se fazer Legião, até um primeiro
show fora da zona distrital, no Circo Voador, no RJ.
Retratando o nascimento da banda, ‘tijolo por tijolo’, o
longa bem pontua os maneirismos de Renato Russo, sem fazer deles piada, só
diferença. E o ator passa bem a personalidade do protagonista, sua excentricidade,
genialidade latente e sua insaciável fome de mais.
A escalada do grupo principia em festas de amigos através,
inicialmente, de uma outra formação. A partir de um ‘Aborto Elétrico’, nome de
seu projeto inicial, uma ‘Legião Urbana’ começa a ganhar corpo. Em ótima
ambientação da época somos apresentados ao anônimo Renato Manfredini Jr,
adolescente classe média de Brasília, professor de inglês, inteligente e
insaciável, vítima de uma doença óssea de nome estranho, epifisiólise, que o
deixa prostrado na cama por um ano e o leva, assim, à música
O filme retrata os
musicalmente prolíficos anos 80, uma época de surgimento de outras bandas tais
como Plebe Rude, Paralamas e Capital Inicial, tão trilha-sonora de ‘um’ nosso
tempo; o que se sente por alusão ou referência.
‘Somos tão Jovens’ ganha por nos apresentar uma parte da história
que não conhecemos, a gênese do fenômeno cultural Legião Urbana e também ganha
por trazer uma sucessão de hits cujas letras comoveram quem foi jovem há 30
anos, canções tão parte da trilha sonora de um tempo. Difícil, aliás, não
seguir cantarolando por todas as performances representadas no filme.
Quando o filme acaba, uma das canções segue ecoando em nós:
“Mas eu dizia ainda é cedo, cedo, cedo…”
“Força Sempre!”
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