Fragmentos
cotidianos de um abandono e os abismos (subjetivos) dele decorrentes. Assim, eu
resumiria, em uma frase, Abismo Prateado, o novo filme de Karim Ainouz.
Sob demanda, porque não sou alguém a quem se possa chamar de pessoa de poucas
palavras. Definitivamente. Principalmente se as palavras são como estas, as
escritas.
Ainda ali,
pós primeira tentativa de definir, de resumir, eu precisaria abrir parênteses
ou observações ou ‘pê-esses’. Filme que não comporta definições ou
subtítulos rápidos. Mesmo enredos, há que se desconfiar porque o terreno
subjetivo é extenso (e intenso).
Apesar de
silente e minimalista, ‘Abismo Prateado’ pede contextualizações, ou mesmo digressões,
porque traz, antes de tudo, contornos sentimentais e pede conclusões pessoais.
Porque se mostra aberto nas possibilidades das interpretações e dos
significados, pela experiência quase sensorial e pouco discursiva em narrativa pautada por
lacunas.
Livremente
baseado em ‘Olhos nos Olhos’, canção de Chico Buarque, e aqui cabem outras
digressões, o filme mostra um dia na vida de Violeta, a dentista de 40 anos,
interpretada por Alessandra Negrini, que vê sua vida à beira de um abismo após
descobrir, via SMS, que o marido a deixou.
O filme
não é a trama, o enredo por traz ou adiante. É a linguagem e os recursos
narrativos utilizados. Em silêncio eloqüente, a personagem segue seu caminho,
deixando que os enquadramentos, o som ao redor (!!!) entre outros
recursos, nos contem de sua dor e deixa que cada um de nós, expectador, dê os
contornos finais.
É um despenhadeiro sentimental, o que vive
Violeta, em uma brusca desestabilização. E é na expressão deste ‘momento
sentimento’ que o filme se desenha. Quase sensorialmente.
Mas a
redenção da dor de Violeta , o longa nos mostra devagar, está no conforto da
coletividade e na força dos elementos cotidianos nela inseridos e partilhados.
O fato de, o 'pessoal' não encontrar espaço, traz conforto às exigências da
vida comum. Porque ser um entre tantos guarda mais imposições cotidianas e
menos dificuldades, silêncios, abismos.
A escolha
da canção, de 'Olhos nos Olhos' deveu-se à sua poesia, mas também à sua
abertura a interpretações, segundo Karim Ainouz. Quando, há alguns anos, foi convidado pelo produtor Rodrigo Teixeira para dirigir um filme inspirado nas
canções de Chico Buarque, ele escolheu uma. Esta.
E a canção dá o tom da leitura da dor, das possibilidades. Nada se enreda, tudo se insinua, olhos nos olhos.
E a canção dá o tom da leitura da dor, das possibilidades. Nada se enreda, tudo se insinua, olhos nos olhos.
Nota
metalinguística: merece parágrafo a atuação de Negrini. Em um papel com forte
carga emocional, ela, dá à personagem uma boa medida de sofrimento e muitas
vezes, monopoliza a atenção do espectador, tamanha a sua entrega, expressando e
manifestando, quase fisicamente, sua dor. E ‘Abismo Prateado’ soube pôr no caminho da personagem elementos que pontuam
este mal estar.
O filme se revela uma
experiência sensorial e pouco discursiva em uma narrativa pautada por lacunas.
Cabe a nós pontuar. FIM.
O tema me interessa. Negrini me interessa. Silêncios e minimalismos me interessam. Poligirl me transborda.
ResponderExcluirBreno.