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domingo, 2 de junho de 2013

de Sunrise a Sunset



‘Alguma coisa está fora da ordem.’ Esta foi a sensação inicial diante de eloquente diferença que, logo à porta, já nos abria um caminho de surpresas. À entrada da choperia do SESC Pompéia, sede de um nosso lazer, casa da cultura de nosso cotidiano, já percebíamos que a maioria ali, não era gente como a gente. Digo; não eram somente ‘sesceiros’ de todos os dias como somos e ali estávamos eu, Cristiane F. e Erico Sauro.

Estavam (e estávamos então) ali em função do Istambul Agora, um festival de arte Turca, em sua segunda edição. Como eu vinha dizendo, não estavam ali em função do SESC e de tudo que ele sempre promove; mas em função do evento da vez e de sua geografia. A Turquia era o chamariz.  Sinceramente, nos pareciam todos descendentes ou imigrantes ou algo que o valha. Percebia-se na linguagem do corpo, nas danças; na maquiagem, nos olhares; nas vestes. Apesar de ocidentalizados, todos guardavam n’algum ângulo, uma cor oriental.

E a diferença, já notória no público, subiu as escadas e fez do palco vitrine. Visível e sonora, principalmente.

O show da noite, na ‘nossa’ Choperia, era do ‘Mercan Dede Ensemble and the Secret Tribe.’ Me faltam palavras para expressar tal mistura e tamanha diversidade. Dede é um artista que também se apresenta como DJ, sob o nome de Arkin Allen e com grupos de distintas formações e dimensões flutuantes.

Nesta noite, Mercan Dede, junto à sua Secret Tribe, tocava uma fusão da música acústica turca tradicional com outros ritmos orientais, adornados contemporaneamente com inserções eletrônicas. Um jogo de ritmos, instrumentos e sonoridades mostrando que a beleza não tem fronteiras.

De Sunrise a Sunset, nome dos dois espetáculos ali apresentados por eles, seguimos por um caminho construído na diferença, conhecendo as muitas nuances de uma arte trazida de longe. Física e culturalmente. Até mesmo os instrumentos traziam a cor local, como Cítara e Nay.

Além de toda música, a apresentação da performance de um dervixe rodopiante foi especialmente hipnótica. Uma diferença antes limitada (ilimitada) à música e a suas nuances, se estende aos movimentos do corpo, expressão corporal, à dança.

Dervixe Rodopiante é uma manisfestação cultural de fundo religioso, originária na corrente islâmica Sufismo, em que os adeptos rodopiam longamente ao som de músicas tradicionais. Os sufis Mevlevi acreditam que é possível atingir o êxtase do amor universal, y otras cositas más, pela prática do giro. E quase nos levam junto. Com o tempo, você se sente ali, no embalo das voltas que eles dão.

Em inglês muito bom e cheio de humor, Mercan Dede nos apresenta, um a um, sua estimulante Secret Tribe e entre eles e suas histórias-legenda, conhecemos o ‘percussionista’, sabendo que toca desde os cinco anos. Em um solo, ele dá fortes pistas de uma intuitividade incomum e suas mãos dão claras mostras de sua desenvoltura.

Me faltam palavras para descrever tanta diferença. Sei dizer que é muito bela e especialmente envolvente. Por si, pelo que traz de significado oculto e pelas nuances identitárias indescritíveis (denotativamente) com uma cultura oriental.

A beleza fez casa ali, aquela noite, estruturada na diferença e decorada contemporaneamente.

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