Aqui, tudo se desmonta. Melhor, se destrói. Encena-se a arte
do devir, sob o signo do caos.
Simultaneamente, faz-se arte e coreografa-se a destruição.
Contemporaneamente, em trabalho de sintaxes pouco ortodoxas, invalidando e
anulando classificações.
Inclassificável, pois. Um espetáculo na fronteira entre teatro,
dança, circo feitos, todos, malabarismo.
Ou sem fronteiras. L’Immediát, premiado espetáculo francês, traz o ritmo
das ruas para o para o palco, ou para o picadeiro. São seis corpos que parecem condicionados à instabilidade,
à busca permanente do equilíbrio, portanto, com o imediato como cenário
cotidiano, gerando ebulição e frenesi e uma desordem escancarada e brutal.
“Pedimos que evacuem o teatro. Cinco minutos de intervalo”.
Dita em português, com forte sotaque estrangeiro, esta frase demarca a abertura
do espetáculo. Assim, portanto, entra em cena a apresentação após breve introdução, diga-se destruição, do cenário.
É um acidente contínuo, o que melhor descreve a encenação e
sua permanente imprevisibilidade, na produção artística do inusitado. Um circo
contemporâneo. Catástrofe, desastre, acidente feitos, todos, circo.
Intérpretes,
artistas, acrobatas com ares de clown, encenam a vida no picadeiro e levam as
ruas para o circo, porque no primeiro, tudo se equilibra e ali, no palco, como nas ruas, tudo desaba. A
intenção era uma montagem desbravando o oposto do equilíbrio do circo. Toda
queda, quebra e choque é milimétrica e
cronologicamente arquitetada, no entanto.
Em gavetas, armários, mesas e embaixo delas esconde-se,
aparece-se, dança-se, mexe-se, dobra-se e faz-se rir. Sob o signo do caos, correspondendo a uma
ordem desconhecida. Do imediato, talvez. É uma desmontagem, destruição em andamento, um
trabalho de (des)construção cenográfica com forte sincronicidade. Como
aquelas obras que carrega uma plaquinha demarcando um processo, ‘em
construção’, aqui, se lê: ‘em destruição’.
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