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domingo, 23 de fevereiro de 2014

nova 'gramática' para a vida


“Descarta os rostos e aprende a reconhecer as pessoas por suas atitudes,  problemas, histórias, trajes, gestos, vozes, pelo modo de nadar, pelo progresso que apresentam dentro d’água. Suas características vão formando um diagrama que consegue evocar e estudar nas horas vagas.”

Este é o protagonista do livro ‘Barba ensopada de sangue’.  Sem nome, portador de uma condição neurológica peculiar, congênita, ele desenvolve uma sua ‘gramática’, um léxico para lidar com as situações cotidianas e as relações ao seu redor.  Seu problema  é com rostos e feições,  dos quais ele não guarda qualquer traço na memória. De nenhum. Nada. Assim, ele se arma de outras conexões, outras referências pessoais para identificar aqueles ao seu redor e manter algumas de suas relações.

Mergulhada na leitura destas páginas, dias para cá, traduzi alguns trechos para minha vida. Acompanhando e me familiarizando com os artifícios do protagonista para superar cotidianamente e sobreviver, portanto, a esta sua deficiência, reconheci  sua estratégia e me identifiquei. Principalmente, com o desenvolvimento de  novas conexões e normativas  que funcionem como combustível para as engrenagens cognitivas, uma vez que as antigas e usuais estão perdidas.

É o jogo da sobrevivência. Adaptar para sobreviver, como Darwin nos explicou nos bancos de escola e sabemos bem utilizar, uma vez que precisemos. Para cada deficiência, uma estratégia;  novos e outros modelos de comportamento frente a diferentes situações, frente à vida.

O problema dele é com fisionomias, das quais ele não consegue guardar nenhum desenho na cabeça. O meu é com tudo. Mas a dificuldade dele é permanente, e a minha, desenhando e seguindo meus diagramas pessoais,  vou deixando para trás, ao dia. Devagar, mas sempre.

Daqui a pouco, vai engrossar as histórias que tenho para contar. E só.  Como a Índia, a Disney, a professora de inglês, como New Age, como a força e a vida.  Como minha mãe, minha professora;  como guerra que sou, no nome e na atitude.  Como poliana, enfim, porque poli são várias.

Sendo a beleza fugaz; tal qual o personagem, aprendi a vê-la em toda parte.

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