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terça-feira, 22 de julho de 2014

90 anos de samba e elegância


Era noite de aniversário, eram 90 anos e era Nelson Sargento.  Humor, irreverência, inteligência… e samba! O aniversário era dele, mas a festa foi nossa. E foi a magia da música que abriu as cortinas de noite de graça e força apuradas. Sargento,  celebrando seus 90 anos no palco, tem dificuldades para ali se posicionar. Ajudantes pelos braços (e degraus) afora, ele alcança a música e se entrega e se basta!

Em projeto marcando seu aniversário de 90 anos, o sambista da velha guarda, presidente de honra da Mangueira, fez show com repertório exclusivo de suas composições e participações de Leci Brandão, Áurea Martins, Agenor Oliveira e mostrou que, aos 90, segue pulsando vida.

E foi sua música, melhor, seu samba, o que nos embalou em noite cheia de ritmo e charme. Parte forte da identidade brasileira porque na maioria das equações, reais, racionais e irracionais; samba  =  Brasil.  Mas ali foi  igual, mas diferente porque a elegância  dava o tom. Da noite e da música. Avesso, portanto, ao paradigma da música brasileira para exportação, o som do Sargento carrega sabedoria popular e um charme peculiar, todo velha guarda.

Em uma graça irônica, ele nos embala também no riso – faz algumas boas piadas acerca de sua (falta de) memória, uma ou outra vez revelada entre músicas, ao não se lembrar da próxima do repertório ou o nome não ser isca para se fisgar maior definição da canção por vir. São necessários os primeiros acordes. E aí vem a música inteira, acompanhada da ginga e da graça.

E nisto me lembro de um aprendizado recente com uma grande amiga. “Poli, música não é memória, é automatismo. O processo é diferente porque envolve sentimento.”.  Assim, a conexão do nome da canção não foi suficiente naquele momento, mas bastou que começassem os acordes, as harmonias para que acordassem o sentimento … e ela (a canção) viesse  inteira!

Em ‘Homenagem ao mestre Cartola’, Sargento traduz, literalmente, o nome da canção, fazendo sua letra através de uma bricolagem das principais composições, títulos e trechos, do seu companheiro de  muitos sambas na ‘festa da vinda’.
“Mas tudo se ajustará numa linda Alvorada
O sol nascerá, Pouco importa depois…”

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