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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

magia em seu lugar

       Collin Firth e Emma Stone como Stanley e Sophie em 'Magia ao Luar'

Um mágico britânico com talento para desmascarar charlatões é contratado para investigar uma provável farsante, pretensa médium (o paradoxo estendido na areia!). Inicialmente completamente cético, ele, aos poucos, começa a se envolver pela moça e duvidar de suas certezas. Assim encontra-se por aí descrito e resumido o novo filme de Woody Allen, Magia ao Luar. Mas com a forte dose de ironia, acidez e humor peculiares do diretor, o filme é muito mais.

Pois, o argumento é este mesmo: Stanley é um brilhante mágico ilusionista que, na ‘vida real’, é um cético absolutamente convicto, E ele é confrontado em suas certezas  diante de Sophie, uma moça com explícitos poderes mediúnicos. Tentando desmascará-la e desvendar seus truques, ele tem convicções abaladas e, se questionando nelas, passa a enxergar a magia como algo necessário ao mundo, um alívio do contato com nossa dura realidade e assim,  nos dá mostras de que nem o mais racionalista dos seres está livre das sem razões da vida.

E é exatamente o ceticismo e o humor ácido que se destacam na trama, nos conduzindo em interessante embate entre o racionalismo puro e qualquer crença n’aquilo que há de misterioso ou inexplicável no mundo.

E aí vemos exposto um caminho alternativo entre a fé cega e a convicção cética daqueles que não creem em nada. Em  Allen, depois de extensa filmografia em que o racionalismo  figura sempre à espreita, se não  protagoniza, ‘Magia ao Luar’ faz concessões e equilibra-se com ironia e humor entre crença e descrença, verdade e trapaça e, a partir daí, sugere um terceiro caminho.

Ambientado nos anos vinte, a fotografia funciona como um verniz bem reproduzindo uma época e proporcionando, assim, um deleite visual.

A trilha sonora é protagonista, como de praxe na filmografia do diretor.  Canções clássicas da época dão o tom (e o ritmo) do filme, pela trilha se identifica a atmosfera.

Mas ‘Magia ao Luar’ cresce mesmo no humor. Collin Firth, no papel principal, o mágico ilusionista absolutamente descrente de tudo, é um altere ego de Allen, em seus questionamentos e seu humor ácido. É fácil identificá-lo na tela. Stanley , com dificuldade de lidar com tudo que não sabe explicar, espelha o diretor com um sarcasmo cheio de humor e exibindo seu ceticismo e arrogância, nos explica que não há 6º sentido, há 5 e há coincidências.

Em filme de contornos acidamente bem-humorados, somos conduzidos em passeios entre as razões e sem-razões do racionalismo puro ou alguma (qualquer) espiritualidade. E  com o fechar das cortinas, o mágico conclui, citando Nietsche, que precisamos nos alimentar de ilusão. 

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