Um mágico britânico com talento para desmascarar charlatões
é contratado para investigar uma provável farsante, pretensa médium (o paradoxo estendido na areia!).
Inicialmente completamente cético, ele, aos poucos, começa a se envolver pela moça e duvidar
de suas certezas. Assim encontra-se por aí descrito e resumido o novo filme de
Woody Allen, Magia ao Luar. Mas com a forte dose de ironia, acidez e humor
peculiares do diretor, o filme é muito mais.
Pois, o argumento é este mesmo: Stanley é um brilhante
mágico ilusionista que, na ‘vida real’, é um cético absolutamente convicto, E ele é confrontado
em suas certezas diante de Sophie, uma
moça com explícitos poderes mediúnicos. Tentando desmascará-la e desvendar seus
truques, ele tem convicções abaladas e, se questionando nelas, passa a enxergar
a magia como algo necessário ao mundo, um alívio do contato com nossa dura
realidade e assim, nos dá mostras de que
nem o mais racionalista dos seres está livre das sem razões da vida.
E é exatamente o ceticismo e o humor ácido que se destacam na
trama, nos conduzindo em interessante embate entre o racionalismo puro e
qualquer crença n’aquilo que há de misterioso ou inexplicável no mundo.
E aí vemos exposto um caminho alternativo entre a fé cega e
a convicção cética daqueles que não creem em nada. Em Allen, depois de extensa filmografia em que o
racionalismo figura sempre à espreita,
se não protagoniza, ‘Magia ao Luar’ faz concessões e equilibra-se com ironia e humor entre crença e descrença, verdade e trapaça e,
a partir daí, sugere um terceiro caminho.
Ambientado nos anos vinte, a fotografia funciona como um
verniz bem reproduzindo uma época e proporcionando, assim, um deleite visual.
A trilha sonora é protagonista, como de praxe na filmografia
do diretor. Canções clássicas da época dão
o tom (e o ritmo) do filme, pela trilha se identifica a atmosfera.
Mas ‘Magia ao Luar’ cresce mesmo no humor. Collin Firth, no
papel principal, o mágico ilusionista absolutamente descrente de tudo, é um
altere ego de Allen, em seus questionamentos e seu humor ácido. É fácil
identificá-lo na tela. Stanley , com dificuldade de lidar com tudo que não sabe
explicar, espelha o diretor com um sarcasmo cheio de humor e exibindo seu
ceticismo e arrogância, nos explica que não há 6º sentido, há 5 e há
coincidências.
Em filme de contornos acidamente bem-humorados, somos
conduzidos em passeios entre as razões e sem-razões do racionalismo puro ou
alguma (qualquer) espiritualidade. E com
o fechar das cortinas, o mágico conclui, citando Nietsche, que precisamos nos
alimentar de ilusão.
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