‘Benção Bossa Nova’ foi um dos primeiros CDs da casa de meus
pais, á época da transição do vinil para aquela nova tecnologia.
Ouvi muito, não porque gostasse ou tivesse referências, mas
porque era adolescente e queria parecer cool, afinada com as modernidades.
Em show comemorativo de vinte e cinco anos do lançamento do álbum
‘Benção Bossa Nova’, o SESC reuniu novamente seus protagonistas, a cantora
Leira Pinheiro e o violinista Roberto Menescal.
A apresentação comemorativa, quase toda dedicada ao repertório do álbum aniversariante
trouxe também, aqui e ali, duas ou três canções de João Gilberto. Quando ‘O
Pato’ chegou ao palco, viajei muitos anos. As canções eram,
quase todas, velhas conhecidas e bailaram por minha memória docemente.
Ao ouvir e identificar a música que mais gostava e apertava
repeat (outra novidade de então), chorei de reconhecimento, por me ver lá
atrás, sentada ao chão, de frente ao ‘aparelho’, quase uma instituição.
E foi uma noite quase catártica porque ‘Benção Bossa Nova’ e
‘João Gilberto Live in Montreaux’ estrearam em um meu ‘amadurecimento musical’
por vias indiretas. Ouvia muito por razões outras, mas que me levaram a gostar
mais e mais.
Estavam ali na Rua Elias Pinto Coelho, em Nova Era, não
porque fossem escolhas de meus pais.
Minha mãe era ‘e Chico’. Roberto e Chico, Elis e Chico, Bethânia e
Chico, Francis Hime e Chico, Nara e Chico. E meu pai, bem, meu pai... O
território dele dentro de casa não fazia fronteira com o canto do som, digamos.
Aqueles CDs foram
presentes de ‘som novo’. E que
presentes!
E aquele show de aniversário foi um bálsamo para minha
memória. Cantei todas, lá dentro do peito. A benção, bossa!