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segunda-feira, 20 de abril de 2015

hoje eu não vou terminar



Hoje não tem nada daquelas perguntas clássicas que, em jornalismo, compõem o lide. O que, quem, quando, porque, como e onde vêm a seu tempo e sua hora porque “meu peito agora é só paixão”! E outra advertência inicial, para que, quem não quiser já saia de fininho e deixe esta leitura para lá: este texto vai ser todo pessoal e sentimental.

Em show pelos SESC da vida, Monarco da Portela encheu minha alma de alegria por me trazer à lembrança um pedaço forte de minha identidade que estava perdido nos desvãos da memória. 

Lembrei que sou Portela, de sangue azul, portanto, desde sempre! Brincadeiras à parte, tanto me lembrei de cada samba cantado, dos mais comerciais aos mais tradicionais, que tive certeza que a Portela fazia parte de meus gostos e vontades de forma intensa. “Sinto... abalada minha calma, embriagada minha alma...” Assim me senti deveras, noite adentro e venho aqui sem qualquer pudor para lhes contar desta veia íntima de meu ser. Esta minha paixão incondicional.  “Juro que nem posso me lembrar... se for falar da Portela, hoje eu não vou terminar...”

A questão é que não me lembrava de conhecer ou de gostar tanto de tudo daquela escola. Me lembrava, sim, do Paulinho da Viola, paixão absoluta e inquestionável desde sempre. Mas não me lembrava do gosto e do prazer musical subirem o morro da Portela e conversarem tanto com a velha guarda e com outros nomes dali tradicionais.

Cantei muito e intensamente. E chorei. De reconhecimento e identidade. Os tradicionais sambas da Portela, naquela voz velha guarda do Monarco, soam tão elegantes. Elegância em prosa e música, porque suas histórias proseadas show inteiro, nos levavam até o morro.

Admirável Monarca, aos 80 anos, sua única ‘cola’ era o repertório. As letras, ele sabia todas e seguia inserindo umas e outras, show afora, ilustrando suas contextualizações e histórias. E assim, ele nos brindou com muitos improvisos show adentro. Canções que se encaixassem em suas ricas contextualizações eram imediatamente trazidas à tona, cantaroladas por ele, independente do repertório planejado ou do conhecimento dos outros músicos, que buscavam reconhecer e acompanhá-lo. Era perceptível estarem os músicos todos  atentos aos devaneios musicais de seu monarca e tentando segui-lo em suas inserções velha guarda! Tantos foram os improvisos que o show trazia as cores do jazz.  “Veja, esta maravilha de cenário...”

Em dia musical, bem iniciado em apresentação erudita, em linda sala de concertos, entremeado e recheado por jazz, leitura e áudio  e fechado no balanço do samba, todo ele alinhavado em doce processo de identidade e reconhecimento, uma memória afetiva! Porque Portela era, notoriamente, uma peça do quebra cabeças de minha identidade em falta. Tive o coração palpitando por todo o show.

E Monarca fechou sua apresentação nobremente com Paulinho da Viola e aí meu coração se deixou levar: "Não posso definir aquele azul, não era do céu, não era do mar...  Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar..."

"Quando para o samba, bate palma e pede bis!"

2 comentários:

  1. Foi tbm " a alegria voltar..."
    Márcia

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  2. Foi tbm "... a alegria voltar ..."
    Márcia

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