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segunda-feira, 13 de abril de 2015

legendando uma trajetória



Wim Wenders dirigindo documentário sobre o fotógrafo Sebastião Salgado. É difícil imaginar que isto possa dar errado ou trazer qualquer coisa menor que grande. Os nomes, os dois, são fortes indicadores de qualidade e de um olhar incomum aliado à perícia técnica. O longa conta ainda com a codireção de Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotógrafo, que registrou várias imagens de viagens ao lado do pai antes que Wenders entrasse no projeto.

                            Wenders com Sebastião e Juliano Salgado
                                                 
O documentário conta um pouco da longa trajetória do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e apresenta seu ambicioso projeto "Gênesis", expedição sua, feita jornada, em busca do planeta como nasceu, com o objetivo registrar, a partir de imagens, civilizações e regiões do mundo, até então inexploradas.

O ‘Sal da Terra’ é um retrato raro e muito pessoal do fotógrafo brasileiro e apresenta o homem por trás do fotógrafo. O filme traz fragmentos da trajetória pessoal do artista, mas se concentra no relato de suas impressões ao avaliar seu trabalho e nos contextualizar dos conflitos que acompanhou com sua câmara. É uma obra ancorada nas imagens produzidas por ele e sua contextualização, portanto, com sua análise e reflexão sobre elas.

Alinhado à obra do fotógrafo, Wenders foca em tomadas em preto e branco, retratando Sebastião em ambientes de trabalho e também colhendo depoimentos com a câmera em close. Entre cenas em preto e branco, cenas coloridas de arquivos pessoais e um incontável número de fotografias, pinta-se um retrato original da obra de Salgado, com o próprio explicando alguns de seus trabalhos mais marcantes e também abordando os sentimentos que tinha a cada experiência. Original pelo ângulo dado e pelo formato, original por trazer as histórias por trás das fotografias.

O documentário nos traz, portanto, as histórias que legendam as fotos e o papel de Salgado como fotógrafo adquire outros significados, nos contextualizando de seu olhar. São as histórias por traz de suas jornadas que compõem cada quadro do filme apresentando, aqui e ali, trechos da vida do fotógrafo narrados tanto por ele mesmo, quanto pelos dois diretores, contextualizando suas principais séries. Trabalhadores, Êxodos e, principalmente Gênesis, são reconstituídas por meio das memórias do protagonista e seus parceiros.

                                                        Fotografia da série 'Gênesis'

Em meio à produção de Êxodos, Salgado se dirige a Ruanda, à busca de imagens dos significativos deslocamentos populacionais, ali em evidência. O cenário que ele encontra, contudo, ultrapassa largamente os fortes parâmetros de crueldade que seu trabalho de intensos significados sociais lhe deu.  Salgado se vê diante do horror.  “Adoeci. Não tinha nenhuma doença infecciosa no corpo. Mas minha alma estava doente”, ele diz no filme. A arqueologia daquelas fotos machuca e constrange.

Desta ‘doença’ e da convicção de que o homem é lobo do homem, nasce o Instituto Terra, pois para  curar a alma, Salgado se volta para a natureza . Assim, dessa fase emergem o Instituto Terra, com o replantio de mata atlântica na região da fazenda de seus pais, em Aimorés, e o projeto Gênesis, ponto de inflexão em sua carreira.

Ao longo do filme, a evidente relação construída com cada objeto de fotografia e, por fim, a força da natureza no Instituto Terra e de suas convicção neste projeto, evidenciam como um processo, uma jornada, levou a outro e a ONG criada por ele e sua esposa em Aimorés – MG, inspirou o ensaio fotográfico Genesis, considerado por ele como sua homenagem ao planeta, retratando o homem  como parte da natureza.          

O Instituto Terra começa a provar que a destruição da natureza pelo homem é reversível pelo próprio homem e a floresta é a solução perfeita para encerrar este belo e sensível documentário, como declaração de amor tanto ao homem quanto ao planeta. Ouvimos, assim, Wenders refletindo sobre a imagem de Salgado após todo o trabalho e produção consequente: “algo que sabia sobre este Sebastião Salgado era que ele realmente se importa com gente, porque, afinal, gente é o sal da terra.”

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