Aprender a viver é que é o viver, mesmo. Riobaldo chegou me contando, sorrateiro, e eu fiquei aqui,
pensando, pensando e, depois, concordando.
Depois de tudo tanto vida afora, estou eu aqui em uma outra
fase aprendizado à todo vapor, onde tudo que eu um dia soube ou conheci, se revela
e se reconstrói desde o princípio e tem de seguir caminho completo, princípio,
meio e fim, para que eu conecte, entenda, lembre.
E é, de fato, uma delícia conseguir me entregar ao que, de
alguma forma, se propõe novo em meus dias. Reconstrução.
E estar carregando a consciência comigo é um puta
diferencial na maneira que consigo encarar todas as perdas (e ganhos). Me
reconstruindo pessoa inteira, de opiniões e exclamações, vou aprendendo mais de
mim. Concordando comigo e, algumas vezes, me permitindo um novo olhar, um novo
querer, um novo fazer.
Polianamente, é um privilégio imensurável poder olhar para
mim, concordar ou discordar, seguir no mesmo caminho ou mudar o percurso,
avaliar do mesmo jeito ou virar do avesso a opinião; sem juízo de valor, sem
questionamentos te contestando. Eu sou é
eu mesma, muito e forte, mas há momentos em que sinto eu mesma fora do eixo e
deslocada.
Isto tudo tanto me veio hoje, agora, assistindo, outra vez ‘As Bicicletas de Bellevile’. Me lembrava que
gostei da animação e, principalmente da
trilha sonora, ponto.
Pois, peguei algumas garrafinhas de Serra Malte por companhia
e me dei de presente outra imersão nesta película sui generis. Misturando traços
artesanais e artifícios tridimensionais, Sylvian Chomet apresenta uma produção sui gêneris plasticamente, onde
Champion é um garoto solitário que só se sente bem em cima de uma bicicleta. Percebendo
sua aptidão, sua avó começa a incentivar seu treinamento, para fazê-lo um
verdadeiro campeão e poder participar da Volta da França, principal competição
ciclística do país.
E o mais gostoso, além da trama e da trilha, absolutamente
incontestáveis, foi, devagar ir nomeando situações e acontecimentos. Minha memória tem se mostrado muito
fotográfica e afirmativa. Se me contam que fiz, me lembro que fiz; mas se
ninguém me conta nada, fico virgem de novo... em cada esquina de meu caminho.
Tenho que saber para lembrar.
Hoje, pela primeira vez (quase dez anos depois) consegui me
lembrar antes de ver qualquer coisa. Me lembrei do nome da avó do ciclista, a dona
Souza e do cachorro dele, o Bruno. Me lembrei do regime quase militar de
treinamentos que ela impunha ao neto, do apito e da alimentação dele.
E isto, para mim, é gostoso! Sinto prazer e abro um puta
sorriso no peito a cada passo de meu caminho, cada degrau de minha escada,
sempre, há 10 anos, vivendo e aprendendo. Isto é ser poliana. A minúscula!
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