Que assim seja!*
Foi meu primeiro pensamento ao sair de uma sessão espírita,
a minha primeira desde sempre, à busca de respostas a uma vontade de
espiritualidade nascente em mim. E ela veio, deixei que ela viesse, em função
de uma identidade percebida, devagar e desde há muito, com os princípios desta,
digamos, filosofia de vida.
Conheço pouco ou quase nada, mas sempre que ouvia ou lia
algum de seus alicerces ou preceitos filosóficos, concordava ou inclinava o
pensamento em um ângulo que permitisse convergências e interseções. E sempre me prometia procurar um centro, ler
mais, buscar, tentar ou conhecer alguma coisa antes de adotar como uma minha
coluna cervical espiritual ou algo do gênero, mas nunca tinha alguma (nenhuma) pro
atitude para buscas ou pesquisas ou leituras ou o que quer que me conduzisse
por seus caminhos que, pela afinidade latente, me prometiam um encaixe ou
conexão etérea.
Mas adequado à filosofia espírita, quando o momento chegou, ele se plantou e me
tomou, de alguma forma, sem que eu planejasse ou me desse conta,
inteiramente. Na mesa do Café São José,
após sessão no Cineclube da cidade, dividindo uma cervejinha com os cinéfilos
de plantão, alguns deles falaram, a uma certa altura, de uma ida em grupo em um
centro espírita de São Domingos do Prata, cidade vizinha e citaram o que o local trazia de novo e
atraente, ao que eu me habilitei e candidatei
instantânea e prontamente. E fui.
No dia seguinte, ainda a caminho, fiquei sabendo de minha
tia, que se tratava de um casal de médiuns que abria as portas de casa (que era
junto ao trabalho e à fazenda) e
recebiam muitos ali, uma vez por semana para uma sessão que vinha ficando
conhecida e atrativa na região.
Ao chegar, primeiro me surpreendeu a absoluta informalidade
de tudo (tanto). Pessoas sentadas nas escadas, em cadeiras, no sofá, à mesa,
pessoas na cozinha, em seu balcão, enfim, em todo canto havia uma alma (!)
Sentei no sofá e minha primeira impressão começou, muito
prontamente, a me alimentar um nó na garganta. Não sei porque. Ouvir a música,
ver o lugar, a informalidade, as pessoas, seu comportamento, sua entrega, sua
leveza me fez chorar. Não sabia (e não sei) porque,
mas me permiti. Instinto e rendição nomeiam bem minha reação. Senti uma leveza
tão grande que não consegui segurar e me permiti, me entreguei e chorei.
Eram depoimentos, psicografias espontâneas, música, leitura
do evangelho, comentários, choros, abraços, tudo junto e misturado em uma
sessão absolutamente participativa. O fato de não haver um altar, púlpito ou um palco e
das vozes serem descentralizadas dava um tom orgânico a tudo e reforçava minha
sensação instintiva de encaixe. Por
instinto eu me sabia em casa, por instinto eu interpretava e fazia uma minha leitura significativa e positiva de todas as atitudes, participações e inserções porque, como foi dito
a certa altura, cada mente vive na companhia que elege.
As leituras, inserções, psicografias não tinham, em
nenhum momento, um cunho doutrinário ou taxativo. Falavam em entender, sentir,
respeitar, cantar, amar. Palavras de muita leveza e sabedoria precediam e concluíam cada
leitura do evangelho, colocando-os como metáforas de guias de conduta moral e
comportamental. Elevar o pensamento,
emitir luz, entrar em sintonia.
Os pensamentos, ensinamentos, posturas, abertura, música,
comportamentos transmitem uma paz indescritível. Uma reflexão que me levou longe e longe me
deixou, reflexão que me ganhou a adesão àquilo tudo, baseada em citação de
Einstein: “Tudo é energia e isso é tudo que há”.
A interpretação é de cada um. A entrega é minha.
* Espíritas, em geral não dizem amém, mas 'que assim seja'. Amém tem origem hebraica e significa que assim seja, mas preservar este termo em sua origem, carregaria algo de dogmático, avesso à autonomia da vontade, tão presente no ideário espírita. Mas não é regra taxativa ou absoluta, como nada o é por aquelas 'bandas'. Cada um usa em suas preces, o que lhe parecer mais forte e verdadeiro!
* Espíritas, em geral não dizem amém, mas 'que assim seja'. Amém tem origem hebraica e significa que assim seja, mas preservar este termo em sua origem, carregaria algo de dogmático, avesso à autonomia da vontade, tão presente no ideário espírita. Mas não é regra taxativa ou absoluta, como nada o é por aquelas 'bandas'. Cada um usa em suas preces, o que lhe parecer mais forte e verdadeiro!
Influência do cumpadre Quelemén de Goés...
ResponderExcluirMuito pouco sei disso, mas acho incrível a ideia de "salvação coletiva" enquanto sociedade e compromisso com o coletivo, ao contrário da "salvação individual das religiões em geral...