Translate

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

folclore e espuma



Estive, dia desses,  de visita, arquitetada e planejada desde há muito, por terras paulistanas. Desde que deixei aquelas terras, como moradora, tenho que voltar, vez por outra, para recarregar as baterias, do afeto e das incansáveis e infinitas buscas, por tudo muito, desde sempre.

Seriam (e foram) poucos dias por ali, mas, ainda assim, reservei uma tarde inteira para a arteira (rimou!) que mora aqui dentro de mim e divide espaço com várias outras, porque poli são várias! 
Assim, pré planejada e agendada, já saí de Minas com duas visitas em meus roteiros. As duas exposições, em campos estéticos e conceituais tão absolutamente distantes, falam muito o nome de São Paulo!

Com sua arquitetura arrojada, a Japan House é observada por Niemeyer
Queria, primeiro e antes de tudo, conhecer a Japan House, que já havia visto em alguns posts de amigos e conhecidos rede social afora, como o primeiro centro cultural do mundo dedicado à arte nipônica, mencionando um vanguardismo, minimalismo, contemporaneidade e outras peculiaridades muito próprias daquela cultura. Me deixaram (os posts ) com muita vontade de conhecer os projetos artísticos em cartaz e o espaço.

Além disto, havia lido recentemente sobre uma exposição em homenagem à vida e obra da Inezita Barroso, no Itaú Cultural. Como li que a Japan House ficava ali na Paulista mesmo, pensei que matava, assim, dois coelhos de uma vezada só!

Comecei, em sentido contrário ao dos planos, por Inezita Barroso. Antes de comandar Viola, Minha Viola , Inezita já era considerada uma das mais importantes intérpretes e divulgadoras do cancioneiro caipira e de outras manifestações da música nacional de raiz. De tom mais folclórico que popular, era considerada uma das mais importantes intérpretes e divulgadoras do cancioneiro caipira e de outras manifestações da música nacional de raiz. Aprendi ali que, Além de gravar mais de 80 discos, atuou no cinema e esteve à frente de programas de rádio.

Entrada da Ocupação no Itaú Cultural
Com manuscritos e registros sonoros e audiovisuais, nos quais Inezita narra seus próprios passos; conteúdos, como entrevistas em vídeo com parentes e colegas, a rica exposição ainda traz uma série de materiais que a homenageada coletou ao longo de toda a vida – como fotos pessoais, bilhetes de fãs e recortes de jornais e revistas. Graduada em biblioteconomia, ela soube preservar e catalogar muito bem seu acervo, tornando a exposição riquíssima em informações e acervo.

Saindo dali já carregada de novidades, passei os olhos pelo mapa do metrô para desenhar meu próximo destino e entender como chegaria ali.

Bem, pernas para que te quero, uns 5 quarteirões adiante, já estava de frente ao belo prédio da Japan House. Sua fachada é já um cartão postal e foi executada por cinco artesãos especializados na arte do encaixe da madeira hinoki. Assim, peças grandes e menores desta Hinoki se unem por meio de junções talhadas para o encaixe. Não dá pra visualizar com esta explicação, eu sei, então, olha abaixo. Olha que lindo este prédio quebrando sua contemporaneidade arquitetônica com peças desiguais e rústicas de madeira, esta hinoki. 

Contemporaneidade arquitetônica - Japan House

Ali, na Japan House, estavam em cartaz algumas exposições. Eu vi todas, mas vou contar aqui de uma. A que mais me chamou atenção pela contemporaneidade, leveza estética, conceitual e material, por fim!

A arte contemporânea do Japão é aqui retratada por meio do trabalho de Kohei Nawa, um dos principais nomes da nova geração de artistas multidisciplinares do país. ‘Espuma’ é uma instalação mutante. Com aparência de nuvem, a ‘obra’ resulta de uma combinação química de soluções (detergente, glicerina, água). A mistura faz crescer essa nuvem em volume, de uma maneira descontrolada, como a divisão celular de um corpo em desequilíbrio, mas a sensação que tem o espectador é de suavidade, como se estivesse caminhando entre nuvens que se modificam a cada segundo.

Localizada no térreo da Japan House São Paulo, esta escultura transitória fica em um ambiente azul, com iluminação programada para revelar sua constante transformação. A obra de Kohei Nawa revela  uma sua obsessão estética: seu olhar sobre as estruturas moleculares, das quais toda a vida é feita. Transformar microbiologia e química em arte, com essa visão microscópica de como o mundo se organiza além do limite de nossa percepção,é o que move esse artista multidisciplinar.


O profundo interesse pela maneira como as coisas se organizam ou se desorganizam é a essência desse projeto. Espuma: pequenas bolhas ou células que, constantemente, se formam na superfície de um líquido similar a um sabão. O intrigante de sua obra está em dar forma e imagem às silenciosas moléculas invisíveis de que somos feitos. Abrir essa porta da percepção é como abrir um telescópio para dentro de nossa origem mais vital e fazer disto arte.

Caminhar pelo espaço é uma experiência similar a caminhar sobre nuvens, mas nuvens de matéria orgânica, como as estruturas de nosso interior porque químicas, moleculares. Essa ideia do encontro entre a paisagem imaginária e a paisagem interior é algo desconcertantemente inovador. Provoca.

Saí da Japan House pronta para sentar com a Louca da Casa para tecer esta longa prosa de que os faço testemunhas! Enchendo a cabeça com estas provocações em campos estéticos muito distantes, só uma Serra Malte pode me dar  boas conclusões e percepções para tudo tanto.

4 comentários:

  1. Ei Doce Poli...
    Que vergonha!
    Estou aqui tão pertinho e não fui a nenhuma delas.
    Esta é a prova de que a São Paulo corporativa nos consome.
    Quero ver Inezita que me traz tantas lembranças do meu querido PAI.
    Besitos saudosos.
    Crisântemo.

    ResponderExcluir
  2. Oi Poli. Ótimo texto!
    Estou maluco para conhecer a Japan House, o Sesc 23, o Instituto Moreira Sales... até o Centro Cultural Fiesp eu ainda não fui! Shame on me!!!!!
    Bjs!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fui no Instituto Moreira Sales também e achei muito rico! matéria para um próximo post! Próxima ida aí, a meta é o SESC 23!

      Excluir
  3. Nossa... Viver em São Paulo às vezes é meio esquisito... Muitas oportunidades de conhecer várias coisas interessantes, mas o tempo passa voando e ficamos dentro de um escritório... Quero ver isso tudo! Beijo! Rita

    ResponderExcluir