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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

samba de mon coeur qui bat

mon coeur qui bat
Abre parêntese, Samba de mon coeur qui bat significa samba de meu coração que bate e é uma canção francesa da Coralie Clément, que sempre ouço, fecha parêntese. Vamos ao texto!

Sim, eu sei que este é o nome de uma canção, não muito popular, em terras brasileiras,  mas velha conhecida minha, desde há muito. E esta foi a última música eleita para trilha sonora de meus dias. Mania compulsiva, confesso, quase um TOC, me enche de prazer observar fatos e pessoas ao meu redor e casá-los com alguma canção de meu hipertexto musical!

Já cheguei avisando à Louca que isto será só uma breve nota. Não vou me estender ou me perder em meus descaminhos favoritos, as palavras! Assim, deixa começar logo para não agarrar em contextualizações, devaneios outros e me enrolar.

É que este mon coeur qui bat, meu coração, personificado no Lourenço, está batendo tanto ultimamente que já vai fazendo um samba.

Tenho comigo, desde o nascimento dele, um caderninho, onde anoto tudo que ele vai descobrindo, falando, aprendendo, fazendo de engraçado. Sim, um caderninho e uma caneta, objetos tridimensionais reais que as novas gerações já vão desconhecendo. Era para durar a primeira infância toda, mas, bem, já acabou! Junta meu gosto pela escrita com o grau de aceleração dos aprendizados do Lourenço e aí já não preciso explicar.

Bom, o primeiro caderninho acabou e eu pensei em parar por aí porque ela já está ficando crescidinho, 2 anos e pouco, as coisas já vão deixando de ser, assim, tão bonitinhas, tão especiais. Qual o que! Parece que, brabo com minha decisão unilateral, ele começou a nos atropelar a todos com descobertas, novidades e graças, tudo ao mesmo tempo agora!

E aí não tinha caderninho para anotar.

Bom, fiquei quase um mês engolindo as novidades, me remoendo e lamentando não ter como guardá-las. Anteontem, por fim, botei um ponto final neste meu sofrimento lamurioso e comprei um bendito caderninho azul (ou azul 'cruzêro' como ele diz, pós lavagem cerebral da titia Apaula!) para ser a parte dois das memórias das travessuras do Lourenço bebê.

E nestes três dias, já foi uma avalanche! Já tenho umas 10 páginas do caderninho azul 'cruzêro' escritas. Hoje de manhã, ele me coroou a decisão de seguir escrevendo, seguir guardando, com um presente gostoso para o meu coração que, desavisado, se derramou em pranto!

Acordamos cedo e, às 6 da madruga,  ele foi para a cozinha comigo para preparar minha vitamina power plus academia e o leitinho super leve pouco e devagar dele, porque o mocinho andou vomitando ontem à noite.

Eu de pé, em frente à pia, rodeada de utensílios e pacotes e ele sentadinho em um banquinho. Ele desce, vem andando até onde eu estava, agarra minhas pernas, olha para cima, para mim e fala: minha mamãe! Meu coração tropeçou, mas não caiu. Peguei mon coeur no colo, fui enchendo de beijinhos, falando 'meu Lourenço' e ele repetindo, 'minha mamãe'.

Peraí que ainda não acabou!  Era só uma nota, eu sei, mas tá quaaaaase, eu juro!!

Mãe chegou na cozinha e já fui, direta e atropeladamente, contando para ela, entre emocionada e orgulhosa! E ela ficou brincando, perguntando a ele, uma hora quem eu era e outra hora quem era a mamãe dele. Ao que ele respondeu enfaticamente (o enfático é retórica minha, confesso!): Poliana Guerra!

Preciso comentar e falar alguma coisa de minha emoção para finalizar? Samba de mon coeur qui bat!


sábado, 20 de janeiro de 2018

dois pesos, duas medidas




Funciona assim: para um assunto, situação ou ocasião muito similar a uma outra qualquer, você tem dois tratamentos opostos, absolutamente distintos; díspares até!

Acontece nas melhores famílias;  já aconteceu comigo algumas vezes, mas a última me marcou pelos contextos e nuances justificativas que ela trouxe consigo.

Não sei se vocês, leitores contumazes da Louca, sabem, mas eu tive um acidente grave há alguns anos atrás. Um troço brabo mesmo! Sou deveras reservada neste assunto por temer me expor e me prejudicar de alguma forma (só que não!!! ;-). Mas hoje, assumindo a Louca que há em mim, resolvi tratar do tema, sem reservas, em sua relação com outro tema, porque conectei os dois e fiquei me perguntando porque agi de maneira tão dispare em situações assim, deveras assemelhadas!

Depois do acidente, depois de um ano de fisioterapia intensiva, depois de muito me recuperar e melhorar, as pessoas ao meu redor diziam (e ainda dizem) que eu ‘manco’, ou piso descompensadamente, ou forço a perna ou qualquer coisa que denote alguma dificuldade na marcha. Bem, o caso é que eu não noto, mas TODO  mundo ao meu redor me conta assim. Então, deve ser verdade!

Recorrentemente, pessoas que não me conhecem  e não sabem o que me faz, como dizem, forçar a perna tão tanto, me oferecem ajuda, me oferecem assento, me oferecem uma mão. No ônibus, no metrô, no supermercado, no taxi, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha se sapê... ;-) E aí, marcada ou  condicionada, sei lá, pelas limitações e possibilidades que este acidente um dia me impôs e querendo provar o contrário e sair delas, mostrando que eu podia e conseguia tudo, SEMPRE negava. Ficava entre indignada e desentendida. Indignada por não sentir e não exibir, na minha percepção, as limitações enxergadas por todos e desentendida porque nunca notei nenhuma deficiência em mim ( e não noto até hoje ).

Senhoras no metrô já se levantaram para me dar lugar em assentos reservados. Metrô, ônibus e fila de táxi. Pessoas me questionando se preciso de ajuda em supermercados ou em suas saídas. Em bancos e aeroportos, me mostravam sempre a passagem sem fila. Nunca aceitei e nunca entendi. Mesmo quando, ainda de bengala, queria me mostrar capaz da fila, do ônibus, do metrô, das compras. Como disse, não enxergo minhas deficiências e queria que todos vissem que sim, eu posso sim!

Aí, passa tempo, passa hora, tic tac, tic tac e eu fico grávida.  Aí o quadro virou. Me flagrei pedindo assento prioritário, pedindo para não enfrentar fila, não ficar na fila de espera oficial de algum algo. Não enfrentava fila de cinema, fila de ingresso, fila de show, fila de abertura de exposição de arte, dobrando quarteirão, fila de check in, fila de banco, fila de nada. Aceitava ajuda em supermercados e sacolões; sessão de assento em ônibus , metrô e sala de espera de qualquer coisa. “Sou errada, sou errante, sempre na estrada, sempre distante”... ah, você não deveria, alguns diziam, mas EU não tava nem aí eu tava grávida, porra!

Aí um dia, coloquei as duas atitudes na minha frente e me perguntei porque tão diferente assim. E concluí que tudo se deve a uma questão matemática. Duas, na verdade! Uma subtração e uma soma.  Nas situações pós acidente, eu não era eu. Não era eu inteira. Me faltavam pedaços, partes, faculdades e habilidades. Não era uma soma de fatores inteiros, mas era, muitas vezes, de fatores negativos, uma subtração, talvez. E eu queria provar que não, que eu estava lá, que era eu, que eu fazia, que eu podia. Nas situações grávida, eu estava lá, era eu, inteira e ainda tinha mais de mim aqui dentro, outros pedaços outras razões. Eu me igualava a outras mulheres e queria fazer valer um direito que, em outros tempos, nem defenderia, não encontrando razão de ser para esta suposta fragilidade, esta condição preferencial. Uma soma de dois!

E aí com os dois pesos nas mãos, diante dos meus olhos, consciência e razão, entendi que, enquanto a preferência era devida em função de uma suposta deficiência ou inabilidade, a subtração; eu não queria, não aceitava não fazia, queria provar o contrário, mas quando foi em razão de uma soma, de um estado ou qualidade, característico da condição feminina, eu queria, eu reclamava eu buscava!

Eu queria era ser igual. Não às benesses que alguma deficiência que me fazia diferente e ‘especial’, portadora de necessidades e sim a todas as possíveis preferências e regalias que uma condição tão humanamente superior me trazia. A maternidade! Porque eu sou é eu mesma... igual, mas diferente!

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

eu sou é eu mesma



é... eu sou é eu mesma... mesmo!

Devem estar todos se perguntando, de novo? Pois... desde que a identidade se me tornou uma questão preponderante,  as definições em torno de minha personalidade colorem meus dias (e meus textos, portanto) de maneira exagerada.

Não sei até que ponto me redescobrir e me reconstruir não se tornou uma característica de meu arquétipo, meu self, que, segundo Young, está em mim desde sempre e nunca se perdeu.  Sei que soa a paradoxo total o questionamento acima, mas não, deixa eu explicar! Young dizia que o que somos vem definido nas entranhas e não se perde (palavras minhas) e estou dizendo aqui que o  meu eu ganhou novas características e definições depois de tantas cambalhotas do meu self.

Não, não estou contradizendo Young (não tenho esta ousadia). Com novas cores, novas leituras, sigo me reafirmando. É, na verdade, uma apropriação muito minha de um real mutante! A busca sempre me caracterizou de maneira muito forte. Buscar, querer entender, conhecer, saber, e buscar, buscar e buscar! E agora boa parte das minhas buscas estão em mim mesma! Direcionei o olhar para os buracos vazios de meu self, na minha memória e percepção, querendo reconstruí-lo.

E à medida que vou aprendendo de mim, do eu, do eu mesmo, vou reafirmando que sou eu sempre e muito! E o com esta novela de meus dias pós acidente, meu divisor de águas, traduzi a construção do self, da identidade, de Carl Young, no eu sou é eu mesmo, do Riobaldo, Guimarães Rosa.

E já virou meu playground!

O acontecido que vou ensaiando contar a todos foi, desta fez, engraçado, até! Guardo cá comigo um tom confessional, que faço bom uso. Não por falsidade, mas porque sou deveras dada a confissões. Sou dada a sinceridades a que as pessoas, normalmente, não se prestam! A amigos íntimos ou feitos íntimos e às bem querências de mon coeur qui bat. E dentro disto, uma frase que compõe, frequentemente, meu repertório é: “deixa eu te contar uma coisa”. Desembocando em uma confissão íntima, uma sinceridade auto-permitida em razão de uma intimidade percebida ou sentida, em uma gentileza a meu interlocutor ou em ponderações francas sobre ocorrências, lá ou cá!

Esta semana, trocando mensagens  Wapp, de conteúdo musical, por razões festivas, com uma amiga, engrenei a primeira para entrar em meu caminho confessional. O algoritmo do Whatsapp busca as palavras mais prováveis da sequência de suas sentenças para te sugerir. De acordo à norma padrão, às expressões idiomáticas ou ao seu uso pessoal, o que você mais usa, o que escreve sempre, etc. 

Comecei a escrever e, por acaso, observei, desde o princípio as sugestões do aplicativo. Muitas vezes, desligo e nem percebo. Mas neste dia, por acaso, observei tudo. Digitei a primeira palavras: ‘Deixa’ e o whatsapp me sugeriu ‘eu’, selecionei o eu e prontamente apareceu no campo de sugestões ‘te’. 'Te' selecionado e surgiu ‘contar’ no centro das sugestões. E depois ‘uma’ e depois ‘coisa’! ‘Deixa eu te contar uma coisa’, sentença construída pelos algoritmos do sistema!

Testei hoje de novo e tá lá... a frase prontinha que, traduzindo em meu dialeto particular, quer dizer: eu sou é eu mesma, sempre e muito!