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sábado, 23 de junho de 2018

diagnóstico: sabedoria popular


Esta semana fui nocauteada, de súbito, por algo sem nome, sem diagnóstico e sem remédio que, urgente e terrível como veio, passou! No auge do terror, pensei comigo: como vou fazer para cuidar do meu filho? Como vou dar comida pra ele, levá–lo à escola,  não consigo sair da cama, não consigo sair de dentro de mim. Até pensar dói. Não sei o que foi, não sei descrever, só sei que foi assim.

E aí, dias depois, comentando com minha mãe do que aconteceu comigo, porque o casulo no quarto e na cama dois dias, eu que sempre tudo tanto, ela comentou que sentiu algo parecido há poucos dias. Algo também sem nome, sem diagnóstico, sem explicação que a derrubou. Minha mãe que é 330V absoluta, all the time.

Aí é que vem a melhor parte desta historinha doída: ela me contou que isto sem nome, Maria que, junto com ela, nos criou a todos aqui em casa, conhecia e classificava. Esta doença, este mal que vem e vai sem se explicar e sem deixar rastro é ANDANÇA. 

Um mal que não estaciona, não faz casa, passa por nós, a ANDANÇA. Adorei! O olhar e sabedoria popular vão muito além do conhecimento, dos fatos. Têm um peso cultural e um saber (sabor) cotidiano que, algumas vezes, conversam com nossa razão de foro íntimo, aquela mais dócil e flexível, e nos fazem aceitar sem questionamento, independente do quão céticos sejamos!

Aqui rolou um entendimento físico, até. Compreensão instantânea, só de ouvir o nome. Tá! Eu tava de andança! Mas era uma andança das brabas! E, sem médico, sem remédio, sem 
diagnóstico, andou, pegou seu rumo e foi–se embora!

Deixa eu passar, agora, a palavra a vocês... Vocês todos, alguém tem algum caso interessante de sabedoria popular, de sabores e saberes do lido cotidiano? Conta aê pra gente! Porque este é o típico caso que, se a gente conta na mesa de boteco, aparecem vários outros similares! Então, não se acanhem e contem se têm alguma cartinha na manga!! conta, conta, conta!!! 

sexta-feira, 8 de junho de 2018

pintura animada


A composição dos frames, de imagens visualmente como que pintadas à mão, nos passa a sensação de soma e mistura de duas artes. De fusão. As nítidas pinceladas nos transportavam para um outro mundo além da película... 

Com amor, Van Gogh é uma animação 100% feita com tinta à óleo, com 65 mil quadros. Foram necessários 125 profissionais para pintá –los, todos manualmente. Depois da gravação em vídeo com os atores, cada frame do vídeo recebeu uma pintura a óleo, ao estilo do pintor.

Van Gogh
multiplicado!

Nada nunca pronto. Cada frame é uma composição. De cores e imagens...  e narrativas. E carregado de familiaridade porque a linguagem de Van Gogh é universal.

Jogo gostoso que se nos sugere é adivinhar quais frames do filme originam de quadros de Vincent, quais pedaços da estória foram compostos em função destas pinturas e quais personagens são coadjuvantes de sua vida ou de sua arte. O mesmo com os cenários

Legendando um de seus quadros, Vincent nos explica a morte enquanto caminho para as estrelas. Caminho feito a pé, quando morremos pela senilidade. E é pelas imagens que embarcamos em uma viagem maior, decodificando cada frame do filme, dentro do roteiro, dentro da biografia do artista ou dentro de sua arte.

 A história da artista contada através de suas pinturas ambiciona refletir seus sentimentos e histórias através de sua arte. Há momentos em que a narrativa se perde no deslumbramento com  seu próprio universo, mas é quase impossível não se deixar levar por suas pinceladas, o que torna os deslizes, quase todos, perdoáveis.

Diante de um cinema de animação óbvio e ‘limitado’ pela tecnologia, experimentações como ‘Com amor, Van Gogh’ trazem um respiro à arte, além de outro olhar sobre o processo criativo de um gênio de todos os tempos.