Numa prosa gostosa, daquelas de cozinha, com gente afinada
com a gente, rolou a pauta de labores manuais, no campo do lazer e do prazer.
Fiquei pensando e não encontrei nada, nem plantio, nem
artesanato, nem artes plásticas, nem instrumentos musicais. E fiquei
desapontada comigo mesma. Como assim, uma pessoa tão afeita a prazeres
artísticos, fora dos afazeres cotidianos, que terminam por produzir resultado
no espírito não ter um rito cotidiano? Como assim, eu não ter nenhuma atividade
extra oficial que entregue prazer.
Ensimesmada, não me entreguei e fiquei repassando meus
afazeres e prazeres diários, um a um. Um dia teve o crochê, é verdade, mas vão
aí décadas que nem encosto em uma agulha ou um novelo de linha. Música, só o
ouvido, a pesquisa, os mp3, rar e bits correspondentes. Artesanato, nem de
forminhas de brinquedo no barro, com meu filho. Arte, os muitos museus que
visito e admiro e ponto, cabô.
Fiquei passando e repassando, na cabeça, uma lista de possibilidades até que encontrei algumas, e pensei que são mesmo o que melhor me define!
A cozinha. Não a cozinha do dia a dia, mas a cozinha
social, aquela da hora do prazer e para amigos do coração, que pedem um
temperinho na medida pessoal. A cozinha, com toque personalíssimo das mãos e
dos sentidos ativos e atuantes, a da alquimia de sabores experimentais, a todo
vapor.Este texto, fruto de um prazer cotidiano (no tema e na
prática), nasceu em uma prosa no cafezinho do trabalho! Reverto, assim, a
pergunta! Você tem um hobby, Eddie?



