Numa prosa gostosa, daquelas de cozinha, com gente afinada
com a gente, rolou a pauta de labores manuais, no campo do lazer e do prazer.
Fiquei pensando e não encontrei nada, nem plantio, nem
artesanato, nem artes plásticas, nem instrumentos musicais. E fiquei
desapontada comigo mesma. Como assim, uma pessoa tão afeita a prazeres
artísticos, fora dos afazeres cotidianos, que terminam por produzir resultado
no espírito não ter um rito cotidiano? Como assim, eu não ter nenhuma atividade
extra oficial que entregue prazer.
Ensimesmada, não me entreguei e fiquei repassando meus
afazeres e prazeres diários, um a um. Um dia teve o crochê, é verdade, mas vão
aí décadas que nem encosto em uma agulha ou um novelo de linha. Música, só o
ouvido, a pesquisa, os mp3, rar e bits correspondentes. Artesanato, nem de
forminhas de brinquedo no barro, com meu filho. Arte, os muitos museus que
visito e admiro e ponto, cabô.
Fiquei passando e repassando, na cabeça, uma lista de possibilidades
até que encontrei algumas, e pensei que são mesmo o que melhor me define!
A cozinha. Não a cozinha do dia a dia, mas a cozinha
social, aquela da hora do prazer e para amigos do coração, que pedem um
temperinho na medida pessoal. A cozinha, com toque personalíssimo das mãos e
dos sentidos ativos e atuantes, a da alquimia de sabores experimentais, a todo
vapor.
- O treino cotidiano do corpo, para configurar a mente no
modo endorfina. Me faz um bem incomum e muito imediato! É treinar, pá,
pum, meu humor está 100%. Isto, cotidianamente, há mais de 20 anos. Agora,
então, depois de perder movimentos e sensibilidade, em parte do corpo, por um tempo, enxergo
no campo da arte, posições e alongamentos e, sim, os pesos todos (bem
pesados!)!
- As 'escrivivências'. Escrever tem uma conotação muito
intensa para mim. São significados pessoais nascentes, a todo vapor. Gerá-los e
entregar significados tem um valor gigante! Os contornos que desenham
minhas mãos falam da intensidade com que vivo e me entrego às experiências,
mesmo às dos outros e as inventadas. Falam de sua origem, do que trazem de
minha história e vivências pessoais. Todas ganham carga emotiva, passando por
minha criação literária e meus contornos motores.
Então, taí, me encontrei!
Meus labores e sabores manuais cotidianos falam de muito de
mim e bem desenham minha personalidade.
Este texto, fruto de um prazer cotidiano (no tema e na
prática), nasceu em uma prosa no cafezinho do trabalho! Reverto, assim, a
pergunta! Você tem um hobby, Eddie?
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