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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

coma, consciência e solidão

Fiquei sabendo de algo dia desses que me tirou dos trilhos... Bom, não foi nada, assim, trágico, mas não soube reagir ou o que pensar, como sentir. Melhor dizendo: me tirou o norte.

Resumo da ópera: Uma novela X da globo tem ou tinha um alguém que está ou esteve em coma. Nisto, a novela me tornou pop. Já fui parada na academia, no trabalho, no restaurante ao lado de casa. E a pergunta é sempre a mesma: tem uma novela da globo com uma personagem xyz, assim, assada com quem acontece isto e mais isto... Você escutava quando estava em coma? Minha resposta, invariável, batia na tecla da falta de memória: - Não sei. Não me lembro de nada deste período. Não sei qual era meu grau de consciência ou inconsciência.

E aí, comentando com mãe o fato de ter me tornado alguém POP, de ser parada e questionada sobre os meandros do coma, em todo canto que vou onde as pessoas se saibam próximas de um alguém que já esteve em coma, ela me conta algo que me desconcerta, me tira dos trilhos. Me colocou em uma posição que não consigo avaliar. Não sei o que pensar ou o que sentir. Minto, quanto a sentir, confesso que sinto uma tristeza para a qual não consigo explicar ou entender as (sem) razões de ser...

Dona Márcia me contou que, quando eu estava em coma, ela se colocava ao meu lado, segurando minha mão e dizia: Poliana, se você estiver me ouvindo, aperta minha mão. E eu apertava!!!! Surpresa, alegria de conseguir qualquer tipo de resposta em momento tão limite mas também um pouco de tristeza, dor. Um não sei o que, não sei como, não sei porque. Mas acontece que não consegui digerir o fato de saber que havia alguma consciência em um momento tão tudo.

Uma pergunta começou a me revirar aqui por dentro: eu tinha consciência, então, do que estava acontecendo comigo, onde eu estava, porque, como, à beira da morte? E aí mergulho nos possíveis sentimentos frente àquilo: a solidão, o desamparo, o temor... um pedido de socorro pelas mãos? Havia alguma consciência de uma impotência diante de tudo? E do que era este ‘TUDO’? Do que me acontecia?

O que mais me contorceu por dentro foi imaginar a solidão ali dentro de meu corpo imóvel. Vinha dia, noite, visitas, amigos, frio, calor, chuva, sol e eu ali dentro, sozinha, sem conseguir emitir palavra, sem conseguir chorar ou gritar: - Me tirem daqui!!!!

Não soube e não sei processar esta informação. Hoje, olho para traz e me vejo, assim, trancada muda dentro de mim e me bate uma solidão claustrofóbica.

Se consciente, eu sentia mas não conseguia chorar, gritar, mover os membros por dor ou incômodo... Só a solidão me acompanhando porque havia um muro entre as pessoas que me visitavam e eu. Um muro chamado silêncio e imobilidade. Um muro também conhecido como vazio.

Eu não me lembro de nenhuma das muitas dores que já me disseram que eu sentia mas hoje me revira a dor desta consciência e da solidão. Hoje, a poliana em mim dorme...

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