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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

(des) memória imediata

Olha só... vamos bater um papo sério?
Prometo tentar ser rápida neste passeio por temas, digamos, arenosos...

É que queria deixar minha modesta contribuição para a medicina, ;-) para os médicos e especialistas em traumatismo e suas seqüelas. Uma aulinha básica do ‘modus operandi’ de uma das seqüelas que vivi e vivo, ao dia, hace mucho!

Quero falar de uma seqüela especificamente, a perda da dita ‘memória recente’. Como pós traumatizada, aprendi que os médicos separam nosso HD em memória recente e memória antiga. Nada de memória ROM ou RAM, amigos informáticos de plantão... nada disto... recente e antiga. E, de acordo à região do cérebro afetada, você pode “traumatizar” uma ou outra. Ou as duas.

No meu caso, o traumatismo mandou a memória recente passear. Permitiu, sim, que ela retorne, mas não marcou data. Assim, enquanto minha memória recente fica flanando por aí eu tenho de me contorcer e retorcer aqui dentro de mim para lembrar coisas várias ou coisas poucas.

Confesso que ela anda se fazendo muito presente, me visita sempre, mas, de vez em quando sai a passeio e se perde.

Bem, só queria, então, catalogar ou registrar a experiência de meu caminho neste solo arenoso, pedregoso mesmo, dos pós traumatizados.

Sei dizer que, no meu caso, a região ‘traumatizada’ foi a esquerda. Por isto tive a hemiplegia do lado direito. Simples assim. Lado esquerdo danificado, lado direito afetado, sequelado. Não acredito que vocês não sabiam!!!! Me contaram que na (mal)dita escala Glasgow, que é uma escala do coma que constitui-se em um método de se registrar o nível de consciência de um pós-traumatizado em coma, me contaram, como ia dizendo, que cheguei ao nível 3. Isto em uma escala que vai de 0 a 15, sendo 2 morte cerebral. Então, amigos, fui e voltei, percebem? Este passeio deve ser melhor que qualquer droga, pena que eu não lembro! ;-)

Sei bem que o grau e o ângulo da lesão definem, e muito, o caminho e a gravidade das sequelas. Quero falar de casos próximos ao meu sem saber, no entanto, defini-lo exatamente. Como todos os médicos muito disseram, todos ao meu redor repetiram e tornou-se notório em meu caso, a minha perda de memória dizia (e diz) respeito à memória recente, sem rigidez na definição de prazos, tempos e movimentos. Perderam-se aproximadamente 5, 6 anos, creio, mais ou menos, do acidente para traz. E perdeu-se também a capacidade de memorizar.

Quando eu estava mais ‘próxima’ ao acidente; hoje, não lembraria nada de ontem; amanhã, não lembraria nada de hoje. Gavetas e armários da memória todos abertos e perdendo arquivos all the time. De qualquer tamanho ou formato, sem discriminação.

E aqui abro um parêntese para contar o causo que minha mãe me contou da primeira manifestação de minha memória recente, um orgulho DESMEDIDO! Fui ao casamento de um primo, primeira vez que saí de casa, efetivamente, pós acidente. E ao final do Casório meu primo leu um texto do Guimarães Rosa para a mulher e para todos nós. E pós leitura ele foi até mim e me presenteou com este texto. Parêntese do parêntese: Foi este primo quem me aplicou Rosa, hoje paixão absoluta e admiração desmedida, em nossa época de estudantes universitários. E aí, no dia seguinte, perguntei a minha mãe onde estava o texto do Rosa que Branco, meu primo, leu no casório e me deu. E minha mãe disse que esta foi a primeira vez que me lembrei de algo acontecido antes. Uma hora antes, um dia antes ou uma semana antes. Isto é que é memória seletiva! Guimarães Rosa, pontos de exclamação. Oficialmente seletiva!

Mas voltando ao motivo inicial deste texto com ares de‘relatório médico’. Trazendo a minha contribuição à medicina. Gostaria de informar aos médicos de plantão (aos de folga e aos não –plantonistas também) que existe uma terceira espécie de memória. Além da recente e da antiga, temos também a IMEDIATA.

E é neste estágio que me encontro agora. As perdas da memória IMEDIATA. Sim, porque estas sempre voltam. São lapsos fortuitos, o famoso branco! De repente não se lembra um termo, um fato ou um causo DE MANEIRA NENHUMA. Mas é só se cercar novamente dos fatos que envolvem ou envolviam aquilo que você queria se lembrar, que a memória volta. Sempre volta pouco tempo depois do branco eloqüente que você teve e jurou que não se lembraria de nada, de jeito nenhum! No máximo meia hora depois! Você está ali desacorçoado com o esquecimento e dali a pouquinho vem a lembrança toda safadinha, passeando perto de ti e se deixa fisgar.

O interessante é que o estágio anterior à lembrança é um vazio. Você não consegue se lembrar de nada, nem mesmo relativo ao tema. E aí, uma saída que estou encontrando é voltar a fazer o que eu estava fazendo antes. E aí... PIMBA!!!!! Quando menos espero, me lembro no detalhe!!!

Mas é esta a contribuição que queria trazer à medicina... esta definição, este conceito, esta etapa na desmemória dos traumatizados: a (des)memória imediata!

e sigo aprendendo...

2 comentários:

  1. Poli!

    Então, sobre esta história de (des)memória imediata: acho que eu sei porque os catedráticos da Medicina nem consideram este possível terceiro desvio. Sabe o que é? TODOS NÓS TEMOS ELA! É sério!

    Poli, é mais que normal não lembrarmos de coisas que aconteceram conosco assim, há meia hora, ontem, semana passada ou qualquer período do tipo... E, como você disse, ao nos cercarmos de fatos relativos àquilo, lembramos, acompanhado de um "ah, é mesmo"...

    Portanto, caso esta (des)memória imediata esteja te deixando aflita, meu conselho é: relaxe, vá pro Pedrão e tome uma Serra Malte! hahahahaha

    Certamente, a cerveja vai te afastar ainda mais a memória objetiva, mas os desvaneios te trarão lembranças de momentos saborosos da vida...

    Beijos, te amo demais!

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  2. Caraca!
    Às vezes leio as postagens do Yahoo e confesso que nunca havia lido algo tão intrigante e ao mesmo tempo esclarecedor.

    Tenho observado em mim perda da memória que eu mesmo chamei de imediata antes mesmo de procurar no google e achar e conhecer a mesma designação para o mesmo sintoma por gente mais qualificada como o depoimento enseja.

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