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domingo, 26 de agosto de 2012

arte em meio à arte


O Instituto Inhotim,  localizado  em Brumadinho, a 60 Km de Belo  Horizonte –  MG,  é formado não só por um grande acervo de obras de arte contemporânea, parte do CACI, Centro de Arte Contemporânea de Inhotim, como também por uma esplêndida coleção botânica, parte do Jardim Botânico local. Espaço onde arte e natureza convivem em relação única, com uma extensa coleção de espécies tropicais raras e um acervo artístico de relevância internacional.

Assim, dentro de rico parque ambiental, pode-se visitar importante acervo (não menos rico) de arte contemporânea, em um grande número de pavilhões-galerias, "imersos" em belo cenário,  em algumas partes natural e em algumas, projetadas pelo paisagista Roberto Burle Marx.

É um dos centros artísticos mais importantes do país que mistura, ali, duas formas de arte: aquela produzida pelas mãos do homem e aquela produzida pela natureza.

Aqui, começo pelo começo. E este começo é dos poucos pedaços dignos de crítica quando este centro de arte é o tema da vez. E o começo é o acesso. Não é um acesso fácil ou mesmo democrático. Não.   Limitado e restrito. Um ônibus sai todos os dias, da rodoviária de BH, às 9:00 da manhã e retorna às 4 da tarde. Um ônibus.  Um horário. E  é importante olhar com antecedência porque as passagens esgotam com freqüência.

Alternativas são os fretamentos particulares oferecidos por algumas operadoras de turismo e por particulares, até. Em geral, são ofertas para grupos, mas aí, condições e horários ficam a gosto do freguês. E de seu bolso.Em tempos de valorização e crescimento de um turismo tão autônomo, independente e acessível, também diante da imagem, internacional até, alcançada por Inhotim, este é realmente um ‘des-serviço’.

O CACI tem um porte considerável. Pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, instalações das mais diversas, de artistas brasileiros e estrangeiros, muitos, são exibidos(as) em várias galerias espalhadas pelo Jardim Botânico.

É uma  seqüência  não-linear de pavilhões em meio ao parque ambiental. A quantidade de galerias e pavilhões e a distância entre eles, torna, às vezes (muitas), um dia, insuficiente para uma visita 'completa'.
Por isto e para isto,  Inhotim dispõe  de transporte interno, carros  elétricos com rotas pré-determinadas, a fim de facilitar o acesso a locais de visitação mais distantes. Este transporte, pago, possui rotas pré-determinadas e horários definidos.

Pelos carrinhos ou mesmo à pé,  o intervalo entre galerias é, a um só tempo, uma atração, e uma ‘pausa para respirar’.  O visitante, ao  chegar, tem diante de si inúmeras possibilidades de caminhos e percursos, onde ora se depara com obras de arte, ora com espécies raras de planta. Não há como sugerir um roteiro predefinido; melhor é se entregar e construir o seu. E tanta arte, tanto conteúdo, tanto significado  não nos desgastam  porque nos caminhos entre uma galeria e outra pode-se descansar, os olhos e a cabeça, admirando o paisagismo. Tempo para digerir, refletir e querer mais.

E  Burle Marx conduz parte de  nosso caminho nestes ‘intervalos’.  Parte da coleção botânica disposta
paisagisticamente, projetada por ele, ocupa uma área de 100 hectáres  de jardins botânicos.  O Parque Ambiental  é dedicado, quase em sua totalidade, às espécies ornamentais raras do Brasil e do mundo.
Ao todo, são cerca de 165    famílias botânicas, 851 gêneros e 3.000 espécies vegetais. Há, ainda,  três lagos ornamentais compondo o jardim.

A paisagem, por si, já é uma obra de arte em Inhotim.  O trabalho de paisagismo aqui é admirável, figurando como aliado e ampliador do prazer supremo da arte.

Hora do Recreio

Espalhados por Inhotim  estão lanchonetes, pizzarias, quiosques de cachorro quente, omeleteria, cafés, bares e, sim, dois restaurantes. Buffet livre de saladas e/ou pratos à la carte. Cozinha internacional ou opções típicas regionais.

Os preços. Bem, preços em museus e galerias não compõem parte atrativa de sua obra e Inhotim  não é exceção. Mas deixe a merendeira em casa. Não se pode trazer comida, petiscos, lanches. Não se pode tampouco (e consequentemente) fazer pic nic. E esta regra compõe minha outra crítica ao espaço. Pequenas, poucas, mas algumas. Em espaço tão bucólico fica a forte sugestão, e forte tentação, de um pic nic romântico ou  entre amigos. Encerramento de dia tão cultural,  às bordas de uma  toalha xadrez, erguendo uma taça de Carmenère à mais bela produção humana: a arte.

Outros Serviços

São oferecidas, aos visitantes, dois tipos de visitas temáticas; uma com foco ambiental, botânico e a outra com foco em arte. Ambas são gratuitas.



A recepção possui guarda volumes, onde bolsas e pertences podem ser deixados. E ali é onde se começa a perceber uma atenção, gentileza mesmo, de todos  os funcionários  solicitados a alguma informação ou algum serviço.  Todos bem informados e bem treinados. Informação é, aliás, a  base (forte)do site do CACI. Bem estruturado e informativo.  Se você precisa de  qualquer dado ou informação do local, visite o site. Toda necessidade ou possível dúvida é ali levantada e respondida.

Arte, Enfim 

Além de TODA a natureza descrita,  Inhotim possui grande e representativo acervo de arte contemporânea, nacional e internacional,  com  mais de 500 obras de 100 artistas de 30  países,  que  vem sendo formado desde meados da década de 1980.  É uma exposição da arte de várias regiões do mundo, que inclui arte chinesa, alemã, americana, inglesa etc. Aí talvez esteja uma particularidade  bastante louvável. O  CACI  nos coloca em relação com proposições bastante diferentes, mas adequadas à linguagem bastante aberta da arte contemporânea.

Além disto, acervo e exposições têm tripla curadoria. Sobre  suas razões de ser, nos conta o site: "A curadoria está a cargo de Allan Schwartzman, Jochen Volz e Rodrigo Moura. O fato de ser dividida entre profissionais, respectivamente, dos Estados Unidos, da Alemanha e do Brasil, é um reflexo de como a instituição  pensa internacionalmente, promovendo livre trânsito entre a arte produzida no Brasil e no exterior."

Há exposições temporárias e galerias reservadas a um acervo permanete.  Grande parte das  obras  ali  expostas  são instalações permanentes, muitas delas  realizadas dentro do conceito de site-specific  no qual os artistas convidados desenvolvem projetos especialmente  para o CACI, considerando  características  naturais e culturais.  Há pavilhões e galerias reservados exclusivamente aos artistas Tunga,    Cildo Meireles, Adriana Varejão, Vik Muniz,  Hélio Oiticica, entre outros. Os artistas internacionais incluem Doris Salcedo, Matthew Barney, Olafur Eliasson, entre muitos outros nomes, nacionais e internacionais.

Os visitantes de Inhotim vão, todos com altas expectativas, criadas por visitantes anteriores. E todos conseguem, ainda assim, sair, de alguma forma, surpreendidos e maravilhados. A dimensão do lugar, a relação das obras com o espaço fazem desta visita uma experiência singular.Experiência, muitas vezes, sensorial, na descoberta e sinestésica na comunhão de distintas artes e na relação estabelecida entre elas.

Ali é particularmente notória, também, a importância da arquitetura e da paisagem na promoção da
interação. Na qualidade da interação, que é uma marca forte em Inhotim. São programas em desenvolvimento que só se completam com a presença do público, aqui participador e não expectador.

Em Inhotim  fica mais explícito que em outros cantos que em arte, contemporânea principalmente,  a construção de sentido é mais pessoal, individual, que nunca. É a experiência e o processo de percepção do visitante.

Inhotim estabelece conversa íntima com nossa sensibilidade.  Passando por ali, quebramos paradigmas acerca das possibilidades de muitas obras, a priori impensadas na forma artística. Uma visita indescritível, literalmente.

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