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domingo, 19 de agosto de 2012

espetáculo visual



“No princípio era o contrato”, mas permanecerei, eu, aqui, com o verbo para contar desta lenda feita filme.

Nesta paródia do Evangelho está Fausto, em uma releitura de João, afinado com suas (in)certezas e permanentes inquietações.

 E além de ‘sofisticado’ verbo; na linguagem figurada, metafórica, ilustrada que nos traz o filme; além disso, já no princípio fala alto a direção de arte.

Eloqüente já às primeiras cenas, com uma ‘abertura’ de encher os olhos,o filme traz  um ‘verniz artístico’ que se faz notar no detalhe, reconstruindo tempos e movimentos da obra de Goethe, à sua época.

Começamos com um passeio da câmera pelos céus até alcançar a residência em que o personagem título disseca cadáveres em sua incansável busca pela alma humana. Personagem que, em sua ambição megalomaníaca de abarcar todo o conhecimento possível, almeja nada menos que a totalidade e vive, assim, em agonia, descontentamento com a realidade que o cerca.

É um espetáculo visual que nos conduz por esta lenda secular, livremente baseada no poema épico de Goethe. Em diálogos e falas ontologicamente recheados, o cineasta russo Alexandr Sokurov, recria em Fausto (Faust, 2011) o famoso pacto, assinado com sangue, entre o intelectual insatisfeito e o demônio.

Insatisfeito com os resultados de sua aplicação aos estudos da filosofia, da medicina e da alquimia, limitados por sua condição humana, faminto e sem qualquer dinheiro por conta dos parcos retornos financeiros desta busca por conhecimento, o intelectual acaba por recorrer à ajuda de um agiota, a versão de Sokurov para o diabo Mefistófeles, uma figura repulsiva mas sedutora. E pelo processo de sedução por ele engendrado, Fausto troca sua alma pela compreensão dos mistérios do universo.

Não é um filme fácil, com sua carga existencialista, temas ontológicos, seus longos diálogos em alemão e sua mistura de sonho e realidade Mas sua riqueza visual compõe narrativa cinematográfica de rara beleza, forte leitura artística do mito universal de Goethe, da ambição fáustica do homem de dominar a natureza, de possuir e modificar as coisas a seu redor.

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