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terça-feira, 14 de agosto de 2012

corpos presentes, still being

Os corpos de Gormley estão por toda parte.

Saí de casa cheia de boas referências de sua exposição, lidas e ouvidas.  Já à porta do CCBB é o próprio, em um dos seus, quem me dá as boas vindas. Alguns passos adiante, já no hall do dito espaço cultural, ele se multiplica e se torna uma população. São cerca de 60 esculturas, corpos suspensos, sustentadas por cabo de aço ou espalhadas’ por todo o espaço em posições variadas. E o molde de cada uma das figuras é o corpo do próprio Gormley.

O britânico  Antony Gormley, 61,  escultor, grande artista em atividade, tem sua primeira individual no Brasil. Corpos Presentes –Still Being é, literalmente, uma grande atração: as obras de Gormley ocupam os três andares e o subsolo do Centro Cultural Banco do Brasil. Corpos presentes flerta com a arte urbana e inquieta os passantes. Ou conduz seu olhar, no mínimo.

À entrada do CCBB, a instalação Critical Mass nos recebe colocando algumas inquietações: O que é o corpo? Qual o seu alcance? Qual a leitura de suas posições, no tempo e principalmente no espaço. O que os corpos, estes, nos transmitem, provocam em nós?

São 12 distintas posições que, dependendo de sua ‘orientação’ física, traduzimos em
diferentes estados de espírito ou emoções. Cada uma destas posições reflete uma etapa da evolução do homem e cada ângulo, cada dobra nos transmite diferentes sensações.

E para cada uma delas cabe uma contextualização. Instalações que ocupam, assim,
halls ou espaços inteiros, têm forte a questão contextual. Mas é um processo pessoal
porque não há outra questão senão a que o espectador coloca. 

Como ele mesmo afirma: “Só dois assuntos me interessam: corpo e espaço”. Há quase quatro décadas, ele vem examinando as variantes em torno desses dois temas, ou da soma deles: a inserção dos corpos no espaço. Mas não é preciso estar a par destes temas para usufruir de sua arte..

Independente de sua razão de ser, estas figuras todas parecem nos colocar como desafio sua linguagem: ‘decifra-me ou te devoro’. Sim, porque a consistência temática nos traz toda uma linguagem da arte de Gormley. Em outro pedaço de sua arte, outro segmento destas habitadas instalações, ainda mais populoso, logo ali ao lado, encontra-se Amazonian Field com 24 mil pequenas figuras esculpidas à mão, em terracota (e estas não têm molde em Gormley!). Esta obra foi feita para a ECO 92, com a ajuda dos locais e exibida  em Rondônia. São 24 mil elementos silenciosos que nos olham, nos encaram.

Outra obra que nos chama atenção é SUM – agregado de formas cristalinas sólidas,
dispostas no chão, no desenho de um corpo. Um corpo ali perdido (e achado)
fortuitamente. Corpo x espaço.

Merece atenção, a obra Mothers Pride, obra em que o artista recortou um corpo em
um painel de pães de forma.  O corpo é simplesmente o espaço  no pão dando um novo significado para a palavra pão de forma. No pão, a forma do corpo! Por fim, mas não por último, porque a exposição não se encerra nistoS, a instalação que mais merece menção e destaque: Event Horizon.

No centro de São Paulo, vale do Anhangabaú afora,  em uma área que vai, mais
precisamente, da Praça do Patriarca até o Teatro Municipal, 31 esculturas em forma de
homens nus, feitas de ferro e em escala real (nos moldes de Gormley, como outrora) estão solitárias no topo de prédios.  Elas transformam a paisagem urbana de uma maneira discreta e instigante ao mesmo tempo - afinal, as obras, que nos observam, pareceram,  aos  que passavam, como bem atestam boletins do corpo de bombeiros, suicidas nos altos dos prédios.

Instalação que nos eleva o olhar, o campo de atenção. Modifica nosso horizonte ao nos condicionar a um olhar incomum. Nos surpreendemos (re)descobrindo uma cidade, pelo alto. Os corpos que hoje habitam o Anhangabaú faz com que todos façamos sua vontade, Gormley ,e olhemos ao redor.  

E é um outro olhar sobre a cidade de sempre. Um olhar que busca arte e encontra, também, uma arquitetura, uma poluição visual, arte urbana e pedaços outros, e negligenciados, disto
que é também São Paulo e que às vezes nos esquecemos (também de olhar).

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