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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

incompletude


"Uma escultura é uma interrogação, uma questão, uma resposta. Ela não pode ser acabada nem perfeita.”

É possível enxergar esta visão nas esculturas de Alberto Giacometti, autor da frase. Ele é o homem por trás de figuras esguias, longilíneas, alongadas – desenhos e esculturas de troncos estreitos, todos trazendo uma verticalidade expressiva.
  
Ele afirmava que, na tentativa de dar mais volume a uma escultura, sempre acabava falhando e deixando-a ainda mais esquálida. É por aí que percebemos, assimilamos esta sua visão de incompletude. Inacabado, é como sempre considerou tudo.
  
Em exposição de sua obra, na Pinacoteca do Estado, conseguimos vislumbrar sua arte como esta permanente busca. Esta sua ideia da arte sempre inacabada, a princípio perceptível em sua obra, quem nos conta é Jean Paul Sartre, amigo e influência. Ele representava não o ser ou o objeto, mas nossa percepção à distância; uma (nossa) deformação derivada da sensação de olhar o objeto. Assim, ele esculpe o homem como o vemos, à distância, uma revolução na história e na arte da escultura.
  
Em vários textos parede afora, intercalando as obras ali exposta, Sartre nos conta daquela arte, ilustrando a ligação dos dois.

É um panorama bastante completo, ocupando todo o primeiro andar da Pinacoteca, com salas expositivas que se articulam em torno das obras. São pinturas, esculturas, desenhos e gravuras. Mas, apesar da ‘ampla’ produção ali exposta, foram as esculturas que trouxeram prestígio a seu nome e são elas, também, a parte mais representativa de tudo que se vê nesta exposição.

Suas esculturas são peças em bronze e gesso, em um modo original de representar o corpo humano. No octógono, salão central do museu paulista, L’Homme qui Marche, sua mais célebre versão de suas conhecidas figuras esquálidas em bronze,  dá  forte  impressão de movimento. É uma escultura viva, porque caminhando.

Ele nos passa sua impressão de que a vida está nos olhos. Reflexo de suas divagações com a questão do olhar são as anatomias pouco usuais de suas criações, algo distorcidas.

Aí figuram também os retratos, pintados ou esculpidos, o que, para ele, é a representação do outro emoldurado. Literal e iconicamente. São retratos de ‘todos os homens’, rostos quase anônimos,  abertos à significação do espectador porque jamais apreendidos em sua integralidade. São, também, desenhos de escultor: dotados de profundidade e ângulos.

Suas figuras tornam-se uma linguagem, uma identidade, aberta à leitura pessoal de cada espectador. Porque a vida está nos olhos.
 

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