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sábado, 10 de novembro de 2012

realidade paralela



Em seu novo filme,  Elefante Branco, o diretor argentino Pablo Trapero  provoca fortes questionamentos em grandes temas,  recheados de preocupações sociais.

Julián  é um padre que dirige a paróquia de Villa Virgen, favela erguida em torno da carcaça de um hospital, projetado para ser o maior da America Latina  e nunca construído. É o elefante branco do título, que tornou-se, junto a outros conjuntos de prédio do bairro, uma imensa ocupação habitacional. 300 famílias ali vivem  ilegalmente e as ruínas do Elefante Branco são uma fotografia da ausência do Estado, em realidade paralela.  

O ‘cenário’ aqui é, assim, a favela, espaço estereotipado pelo cinema brasileiro, na estética e na linguagem,  mas somando o olhar de Pablo Trapero, em ‘cores’ suas.  Através de um estilo que nos dá uma fotografia mais completa (e complexa) do universo retratado, provocando reflexões, Trapero não usa a linguagem do filme de ação para ‘espetacularizar’ a violência .

Ricardo Darín é Júlian,  e recebe Nicolás (o ator belga Jérémie Renier), que deve ser seu sucessor na coordenação daquele projeto social na ‘vila’. Os dois são padres católicos, atuantes na comunidade, que têm seu trabalho limitado pela guerra local do narcotráfico e nos conduzem, assim, em um questionamento da função da igreja em situações tão extremas.

Qual o papel social da igreja? E sua legitimidade enquanto instituição? Qual o alcance e os limites de uma sua atuação prática na comunidade? Qual o significado da dimensão ‘teatralizada’ e ritualística de suas cerimônias em um mundo de realidade tão forte, exasperadora e que fala tão alto, grita, clamando por ajuda?  

E o filme segue, assim, provocando um sem-número de interrogações. Questiona-se mesmo as razões de ser de limitações e proibições impostas aos seus, aos clérigos e aos fiéis. Diante do cenário que nos oferece o filme, uma (outra) pergunta aparece em nossas legendas pessoais: qual o valor de regras e hierarquia de um sistema diante da vitória do ‘não-sistema’?

Quando a câmera se detém no rosto dos protagonistas, encarando suas dúvidas e angústias, fica para nós, espectadores, um visível confronto de possíveis papéis da igreja. O ritualístico e o atuante.  Há cenários que, sim, estes papéis convivem, mas em outros são, claramente, irreconciliáveis e antagônicos. Porque a realidade, aí, fala muito alto.

Um comentário:

  1. O cinema argentino sempre foi uma referência de produzir filmes densos, sensíveis e principalmente de qualidade. Todos esses "ingredientes" e com tuas impressões tão instigantes, programa garantido.
    Breno

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