Bom Retiro 958 metros. Não, esta não é uma prova de
atletismo que acontece neste bairro, em São Paulo. São, sim, 958 metros de
caminhada pelas ruas desta mesma vizinhança, mas acompanhando uma peça de
teatro, deambulante, que utiliza a cidade como espaço cênico.
Tendo a Oficina Oswald de Andrade como ponto de encontro e a
rua como palco, o Teatro de Vertigem apresenta, em uma espécie de mergulho no
cenário, fortes características formadoras do Bom Retiro.
O fluxo migratório intenso, o consumo, a moda, as relações
de trabalho constituem os pilares deste edifício em construção. Fruto de um
processo colaborativo dinâmico, a peça continuou a ter seu texto alterado, após
a estreia.
São situações entrecruzadas em um shopping, marquises de
lojas fechadas, cruzamentos, vitrines, entre outros, retratando ‘subprodutos’ sociais de uma ‘des’organização
migratória.
O Teatro de Vertigem é forte na exploração do espaço
público. Nesta história, que corre um kilomêtro ‘Bom Retiro’ afora, é
interessante observar a maneira como a peça faz uso da cidade, seu ritmo, seus
tempos e movimentos, sua dinâmica e, dentro disto, como os atores articulam a
disposição do público.
Através de personagens seus, as ruas do bairro nos contam
sua história. Uma faxineira de shopping ( do ‘Dopping Center’!), um viciado em
crack, uma manequim, dessas de vitrine, uma noiva, crias de um nosso desvio
social, nos mostram em pequenas e seguidas esquetes, outros ângulos, que não os
oficiais, deste cenário, também da vida real.
Com o correr da peça (ou o andar, para ser mais precisa e
literal) nos fica claro que aquele bairro, o Bom Retiro, pelos menos nos 958
metros percorridos, existe no e para o dia. É um pedaço da SP ‘útil’. Dos dias
e horas úteis. E, assim, fica mais forte e apropriada a alocação da trama e do ‘submundo’ que representa.
Ótimos todos! A história, a peça, a experiência.
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