A longa, fantástica, e por vezes épica, jornada de um rapaz
em um convulso e interminável oceano, na companhia de um tigre faminto. Além de instigante por si, pela trama e por sua abordagem,
nos significados e na estética, ‘As Aventuras de Pi’, o filme, significou, para mim, um
novo olhar sobre a velha Índia, refletida em um seu personagem. Um novo olhar
de quem ali viveu por um tempo e há tempos e que se surpreendia (e se
encantava) todos os dias com as óbvias diferenças na cultura, refletidas
nitidamente no comportamento, ao dia e no detalhe.
Começou pela música, esta viagem de volta à Índia através das
telas do cinema. Passando pelo inglês local, tão característico, pelas feições,
pelo humor inocente, pela magia, pela filosofia de vida. Viagem transoceânica
passou ainda pela dança, pelas cores, pelo inconfundível (e muitas vezes alvo de
paródia) gesto de anuência, balançando a cabeça para os lados.
Saindo da Índia e, à busca do caminho marítimo para as
Américas, em nítida inversão de uma “falha” histórica, a família de Pi, Piscine
Molitor Patel, se vê submergindo sob forte tempestade. Literalmente.
Pi consegue escapar (a princípio e aparentemente) só, mas na
companhia de alguns dos animais do zoológico que seu pai tinha na Índia e que
traz consigo na tentativa de que os ajudem a ‘fazer a vida na América’. Em
pequeno bote salva vidas, ele, uma hiena, uma zebra, um orangotango e um tigre
escapam de um naufrágio.
E assim, Pi e sua ‘Arca de Noé’, começam a enfrentar em mar
revolto, uma tempestade de metáforas caminho afora, numa viagem que se fecha em
tom de fábula.
‘As Aventuras de Pi’ é Ang Lee. Denota verossimilhança em mundos paralelos e
fantásticos.
E Ang Lee, na sua melhor forma, nos transporta para dentro
de sua estória. Imersos em sua lógica estamos, nós mesmos, edificando as razões
do filme, buscando o tom de suas metáforas e admirando uma inegável beleza
plástica.
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