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domingo, 23 de junho de 2013

eu sou é eu mesmo


"O FATO SE DISSOLVE - AS LEMBRANÇAS SÃO OUTRAS DISTÂNCIAS"

Era Branco e era Rosa.
Cristiano, meu primo, que todos chamamos de Branco, lia uma bricolagem de trechos de Guimarães Rosa para sua futura esposa e para todos nós, convidados, em seu casamento.

Feita a leitura, finda a cerimônia, Branco caminhou até mim para me presentear com aquele quebra-cabeças ‘roseano’ montado por ele, para enfeitar seu casamento. Eu, que, ainda vivia as sequelas de um acidente, estava sentada lá atrás, bem no fundo, assistindo a tudo de longe.

No dia seguinte ao do casamento, já acordei perguntando à minha mãe onde estava o texto  que eu havia ganhado. Minha mãe se surpreendeu muito com minha pergunta, com esta minha lembrança do ontem.

Eu estava, já há quatro meses, sem rastros de uma memória, a dita recente e não me lembrava nunca de nada com horas de diferença, quiçá de um dia, fruto de um traumatismo grave que me trouxe o tal acidente.

Foi Branco quem me apresentou Rosa, em um nosso tempo de república de estudantes universitários. O autor e a obra. E foi paixão absoluta à primeira leitura, começada já do topo. Grande Sertão Veredas foi o primeiro  ‘entretodos’ e aí não havia como ser diferente.

Seria, inevitavelmente, um aborto de missão à primeira tentativa, às primeiras páginas, sem entender a linguagem e o viés ou, como de fato aconteceu, seria uma entrega à filosofia do homem simples do sertão, bela, inteira.

O passado faz quem somos. O autor de ‘Grande Sertão…’ que fez de sua obra, um dos alicerces de meu gosto e minha vontade literária e sempre foi muito importante para mim, me acordou uma memória que dormia em sono profundo há cerca de quatro meses.  Assim, “o passado é que veio a mim, como uma nuvem…”. 

E por estas veredas é que começou minha longa viagem em busca de mim mesma. 

2 comentários:

  1. Quanta sensibilidade, quanta leveza para narrar o que foi pesado.
    Márcia Araújo

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  2. Falar sobre nós mesmos é um exercício difícil e delicado. Mas você, Poligirl, consegue com exímia sensibilidade e poesia, tocar em feridas que tanto marcaram sua história.
    Escrever este caderno do Eu, encarar os fatos vividos com tanta coragem, mostra-nos o que você tem de mais sublime: sua vontade incondicional VIVER intensamente. Profunda também é a minha admiração e amor por você.
    Breno.

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