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domingo, 14 de julho de 2013

eu sou é eu mesmo


ainda existir parecia um desatino

Saldo médico-hospitalar: Vinte e oito dias em coma, outro mês em uma recuperação pós trauma no Hospital Felício Rocho, quatro semanas em um hospital de reabilitação, o Sarah Kubistcheck.

Findos três meses de reabilitação em hospitais, estava pronta para um ano em recuperação em casa, com a onipresença e apoio incondicional de meus pais, todo o tempo, em todas as etapas, buscando todas as possibilidades. Um ano de fisioterapia, todos os dias e fonoaudiologia toda semana, acompanhamento ortopédico e nutricional. Outros dois anos, finalmente, em uma terapia médica pós-trauma, visando resgatar funções cognitivas perdidas com estas lesões cerebrais de nome esquisito.

Na ambulância, saindo do hospital de emergência, a caminho de um segundo hospital. Uma primeira ação voluntária e consciente. Chorei. Antes, em coma, não sentia o corpo, não dava sinal de nada e agora aquelas fraturas todas  ali comigo e toda a dor que elas carregavam consigo. Um choro foi a primeira manifestação de que havia vida ali.

A única lembrança que tenho de tempos de hospital, do segundo, é de uma pergunta que fiz à minha mãe, ainda balbuciante e meio chorosa, quando comecei a falar: “- cadê minha mãe?”, perguntei a ela.  Não tinha certeza se ela era uma enfermeira que haviam colocado para me vigiar ou se era, ela, minha mãe. 

O condicionamento humano independe de memória. Nos momentos em que estamos fragilizados e machucados, instantaneamente, buscamos a mãe, o colo, a proteção que elas significam. Ainda que não saibamos bem identificar. Hoje imagino a dor dela.

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