ainda existir parecia um desatino
Saldo médico-hospitalar: Vinte e oito dias em coma, outro
mês em uma recuperação pós trauma no Hospital Felício Rocho, quatro semanas em
um hospital de reabilitação, o Sarah Kubistcheck.
Findos três meses de reabilitação em hospitais, estava
pronta para um ano em recuperação em casa, com a onipresença e apoio
incondicional de meus pais, todo o tempo, em todas as etapas, buscando todas as
possibilidades. Um ano de fisioterapia, todos os dias e fonoaudiologia toda
semana, acompanhamento ortopédico e nutricional. Outros dois anos, finalmente,
em uma terapia médica pós-trauma, visando resgatar funções cognitivas perdidas
com estas lesões cerebrais de nome esquisito.
Na ambulância, saindo do hospital de emergência, a caminho de um segundo hospital. Uma primeira ação voluntária e consciente.
Chorei. Antes, em coma, não sentia o corpo, não dava sinal de nada e agora
aquelas fraturas todas ali comigo e toda
a dor que elas carregavam consigo. Um choro foi a primeira manifestação de que
havia vida ali.
A única lembrança que tenho de tempos de hospital, do
segundo, é de uma pergunta que fiz à minha mãe, ainda balbuciante e meio
chorosa, quando comecei a falar: “- cadê minha mãe?”, perguntei a ela. Não tinha certeza se ela era uma enfermeira
que haviam colocado para me vigiar ou se era, ela, minha mãe.
O condicionamento humano independe de memória. Nos momentos
em que estamos fragilizados e machucados, instantaneamente, buscamos a mãe, o
colo, a proteção que elas significam. Ainda que não saibamos bem identificar.
Hoje imagino a dor dela.
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