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domingo, 21 de julho de 2013

eu sou é eu mesmo


eu sei que isto que estou dizendo é dificultoso



No segundo hospital, o Felício Rocho, era, ainda, alimentada por sonda. Mastigar e engolir eram tarefas muito especializadas.

 Não conseguia ficar sentada. A cabeça não se sustentava, mas precisava para aliviar o pulmão. Assim, me sentavam e apoiavam as laterais.

 Desaprendi tudo, funções, movimentos, articulações, tamanha a lesão craniana. E quando falamos em lesões, fraturas e afins no cérebro, a recuperação é complicada porque a capacidade de regeneração ali é muito limitada. Assim, a morte de neurônios significa, muitas vezes, a perda de funções cerebrais. Por isto ‘zerei’ muitas delas, como o equilíbrio, que não estava lá. Minha perna estava, depois de um tempo, inteira (tive uma fratura – coisa pouca(!)), mas eu não tinha equilíbrio para ficar de pé.

A memória dita recente (sim, temos duas, a recente e a antiga), no meu caso um espaço entre dez e quinze anos, foi perdida. Memorizar também não era um verbo conjugável. O que acontecia agora não era lembrado depois. Menos ainda se os advérbios temporais fossem hoje e amanhã.

Mas um conhecimento importante que adquiri na prática, sobre nossa ‘ferramenta’ craniana,  é que, sob estímulo,  o cérebro é sim, capaz de desenvolver outras regiões para cuidar das mesmas funções que cuidavam aquelas traumatizadas.

Assim, funciona tudo como um recomeço. Tenho de ensinar as mesmas funções a outras regiões que nunca praticaram nada d’aquilo. Mas parece haver aí, nestas aulas, nestes ‘re’-ensinamentos, ao corpo e à cabeça, um ‘plus a mais’. Temos de começar do zero, mas feita a primeira lição, parece acontecer o resgate de alguma memória perdida e aí os dois, corpo e mente, engrenam segunda marcha e fazem um caminho mais acelerado. A segunda primeira vez é mais profissional, “o senhor veja”. 5

Ainda existir, parecia um desatino…6, mas o saldo pessoal é nada no corpo e um mundo na cabeça.   

Tradução: depois de tudo tanto, não guardo sequelas físicas e a cabeça já vai encontrando seu caminho. A memória ainda não chegou lá, mas corre bravamente a caminho. O raciocino, às vezes, pode soar ilógico, mas vai emendando as peças do quebra cabeças, com peças novas para encaixar, as do aprendizado e do crescimento, que esses sim, ganharam espaço e me deram outras cores e ângulos novos de presente.



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