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domingo, 18 de agosto de 2013

a artista está presente




E ela, inteira,  se (e nos) basta!

Em 2010, o MOMA, Museu de Arte Moderna de Nova York, realizou retrospectiva de quarenta anos de carreira da sérvia, Marina Abramovic, cuja principal atração era a presença  da artista.

De Março a Maio daquele ano, sete horas por dia, seis dias por semana, totalizando 736 horas, Marina estava ali, sentada de frente para o público, confrontando, assim, o papel do artista, sua função, extensão e os limites entre profissional e pessoal na vida deles. Existe separação?


Sincera, inteira, aberta e ‘limpa’, ela se entrega e sua  presença contagia de forma magnética o público que encara filas madrugada adentro simplesmente para estar  com a Marina e se permitir o saldo deste encontro, de um olhar. Da artista presente.


Uma retrospectiva peculiar porque retrata um histórico de uma artista que sempre privilegiou performances, ações no terreno artístico que promovem interação entre artista e público, realizadas para não serem repetidas. Assim, jovens artistas foram convidados para reapresentações de atos marcantes de sua carreira, a maioria deles com Ulay, pseudônimo de Uwe Laysiepen, antigo parceiro de vida e arte.


No documentário, feito a partir desta sua apresentação e da comoção que ela causou, Marina destaca o quanto já foi desclassificada pela crítica de arte, ou classificada pejorativamente. O peso desta colocação,  se sente quando sabemos que o doc trata de uma individual retrospectiva da artista no MOMA, uma das mais importantes  instituições culturais de nosso tempo. A coleção do MOMA constitui uma das maiores e mais reconhecidas panorâmicas sobre as artes moderna e contemporânea.


Destaca-se no documentário, a participação de Ulay, com quem ela dividiu performances e projetos, de forma simbiótica, por 12 anos.  Uma dependência recíproca prolífica, com denso histórico artístico. Depois de um fim de romance e de parceria artística turbulentos, passaram 20 anos sem se falar.


Com reencontro arquitetado pelos produtores do filme, ele vai ver a artista presente. Com a ‘visita de Ulay, Marina se rende, quebra seu protocolo, lhe dá as mãos e seus olhos sinceros se desmancham em lágrimas. Depois de um histórico da relação dos dois, vida pessoal e artística, documentário afora, devidamente carregados do peso deste encontro, o vemos na fila buscando o olhar da artista.


E é este olhar o que move o público emocionado e as quase duas horas de filme. Uma linguagem cifrada em um rosto expressivo e denso, que nos transmite a potência de sua arte. Ela conecta todos que ali se sentam, na frente dela,  através do olhar e se dedica inteira a cada um. E aí, sentimos a força do close up quando usado com sabedoria.


Ela se questiona, assim, de seus limites e nos faz questionar dos da arte.  Provocando reações verdadeiras, pelo olhar, ela mostra a todos que está lá.


O que fica depois de tudo, todos os olhares, todos os visitantes, depois da retrospectiva e do filme é que, como bem diz  Ulay ao longo do filme, ‘She’s never not performing’. Ela É a artista ali presente. Temos contato com a mulher por traz da artista e ela é, também, artista.


“Mas o que é arte, senão a revelação da natureza humana?” nos pergunta Marina.

2 comentários:

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  2. A Performance Art de Marina Abramovic é direcionada para diluir os obstáculos da arte tradicional, em uma espécie de luta por uma arte sem barreiras. A artista se expressa sentada e em silêncio, no mesmo instante em que o público o recebe, emissor e receptor, e no espaço (o mOMA). Utilizando o corpo como suporte e como meio de expressão, Marina lança em sua performance um confronto direto com o outro, desafiando os limites do corpo e da mente. O seu olhar dotado de alteridade cria um abismo insondável, um conhecimento do inexequível. É possível captar em seu olhar: sereno e vazio, uma reconhecença paradoxal de nós mesmos.

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